'Dia do Desejo': Hospital público em Salvador realiza os últimos desejos de pacientes

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Fundamentado em três pilares básicos, a fim de humanizar o final da vida do paciente, confortar as famílias e aliviar a própria equipe médica, que ficou sobrecarregada durante a pandemia, o "Dia do Desejo" foi instituído no Hospital Municipal de Salvador (HMS), na região de Cajazeiras, ainda em 2021, pouco depois de um dos piores meses da Covid-19 no Brasil.

A ideia foi do gerente médico da unidade de saúde, José Mário Teles, que, buscando tomar um ar, subiu ao heliponto, no terraço do prédio, no mês de abril daquele ano, quando foram registradas mais de 82 mil mortes no país. Ali, sozinho, disse ter sentido algum conforto. “Esse lugar lindo estava ocioso. Eu queria usar aquilo a favor dos nossos pacientes”, disse à revista Piauí.

Inicialmente, o projeto foi chamado de “Passeios Que Curam”, cuja ideia era oferecer aos pacientes internados por longos períodos, inclusive àqueles em estágio terminal, um pouco do alívio que o médico sentiu lá em cima, com a vista para o mar do bairro de Patamares.

Hoje, o projeto é chamado “Dia do Desejo”, acontece uma vez por mês e integra um conjunto de outras ações. A inspiração de Teles foi a proposta “Three Wishes” (Três Desejos), defendida pela médica canadense Deborah Cook, em um congresso virtual sobre medicina intensiva que ele acompanhou durante a pandemia. A iniciativa vai além da visita da copeira fantasiada aos quartos, oferecendo comidas gostosas que não costumam estar no cardápio do hospital.
 
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O programa, que começou voltado apenas para pacientes da UTI, com doenças terminais, logo foi abraçando outro pacientes, daqueles que ficam internados por muito tempo aos em cuidados paliativos. Hoje, o “Dia do Desejo” é voltado para todos os pacientes e inclui até a visita simpática de Mick Pet Terapeuta, um filhote de Golden Retriever de 2 anos, que, apesar de tirar sorrisos dos adultos, encontrou carinho especial na enfermaria pediátrica.

Desde que passou a permitir, ainda em novembro de 2020, que pacientes isolados trocassem fotos e mensagens de texto com seus familiares e recebessem visitas virtuais por chamadas de vídeo, o HMS notou a transformação no ânimo e na recuperação dos pacientes com essas medidas simples. A equipe médica entendeu, desde então, que as pequenas ações de acolhimento não poderiam ser menosprezadas em meio aos tratamentos de rotina.

Além da comida especial e da visita do cachorrinho, outras iniciativas de humanização foram instituídas no hospital, como o “prontuário afetivo”, uma ficha que apresenta quem realmente é o paciente, indo além de tipo sanguíneo, altura e peso, resgatando desejos e paixões, como o time do coração e a música favorita. Música, inclusive, não falta na "programação". Entre as ações, estão visitas de saxofonistas e músicos da banda da Guarda Municipal. 

“Ter todas essas ações e ver esses resultados em um hospital do SUS (Sistema Único de Saúde) é muito gratificante”, complementa Teles, em conversa com o repórter Pedro Tavares. Segundo o gerente do hospital, que, dentro de uma Área de Proteção Ambiental (APA), tem suas alas batizadas de árvores nativas, como gameleira e jacarandá, só um desejo não foi atendido até hoje. “O filho da paciente disse que a mãe queria fumar um baseado. Cogitamos pegar um remédio à base de canabidiol, mas não rolou. Esse aí, infelizmente, não deu pra realizar”, revelou.

Fotos: Paula Fróes para revista Piauí.

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