24 Aug 2018
Dia da Infância: A difícil e necessária tarefa de limitar o uso das tecnologias digitais

A exposição precoce e em excesso de crianças às tecnologias digitais traz consequências que ainda são desconhecidas por muitos pais. Justamente por isso, torna-se oportuna a discussão do assunto no Dia da Infância, comemorado em 24 de agosto, de acordo com o calendário do Ministério da Saúde.
O engenheiro mecânico Riverson Lima, 35, que tem um filho de três anos, afirma que ele e a esposa tentam estabelecer uma rotina para o menino limitando tempo e horário para exposição às telas. “Depois do almoço, ele sempre pede para assistir desenho. Aí a gente coloca ele pra assistir, mais ou menos, 30 minutos. [...] Durante o lanche, à tarde, a gente deixa ele ver também. Depois das cinco, eu já levo ele para brincar na rua e interagir com as crianças. Na volta, não tem mais [desenho]”, conta.
Porém, esse cuidado em diversificar as atividades das crianças ainda não é atitude comum a todos os pais. A neuropediatra Julia Monteiro, professora do curso de Medicina da FTC Salvador, conta que o uso descontrolado das tecnologias digitais tem gerado problemas que são confundidos com transtornos mais sérios. “Não é raro os pais chegarem ao consultório achando que o filho tem autismo. Durante a consulta, quando pergunto sobre a rotina da criança, identifico que o uso excessivo de aparelhos eletrônicos pode estar afetando seu desenvolvimento”, afirma a médica. Dificuldade de socialização, ansiedade, obesidade, problemas auditivos e oftalmológicos são exemplos de consequências negativas provocadas por esse uso sem limites, segundo a neuropediatra.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que os pais limitem o tempo de exposição às mídias ao máximo de uma hora por dia para crianças que tenham entre dois e cinco anos. Para as que têm menos de dois anos a recomendação é evitar ou nem deixar que elas tenham acesso, principalmente, durante as refeições e entre uma e duas horas antes de dormir. “Os bebês absorvem muitos estímulos do ambiente e o comportamento das pessoas. Se um bebê fica um turno inteiro exposto à televisão, tablet, computador ou celular, são, em média, quatro horas em que sua estimulação fica comprometida”, avalia a professora Julia Monteiro.
A perda de acesso a variadas fontes de estímulo é uma consequência preocupante do uso excessivo das tecnologias digitais por crianças, na avaliação da psicóloga Mariana Menezes, professora da graduação em Psicologia da FTC Salvador. Segundo a psicóloga, que é mestre em Análise Comportamental, isso gera uma baixa variabilidade de comportamento. “Na medida em que a criança fica horas e horas presa num tablet, celular, videogame acaba não desenvolvendo outros repertórios e
fica com alguns comportamentos bem estereotipados, bem limitados e repetitivos”, explica.
Outra questão importante a ser observada diz respeito ao comportamento dos pais. Embora não seja fácil, equilibrar o próprio uso é uma atitude que contribui com o estabelecimento de limites para os filhos. O engenheiro Riverson Lima diz que ele e a esposa tentam controlar o uso do celular na presença do menino. “É uma coisa que eu me restrinjo a fazer até para eu poder ter moral quando disser não para ele”, afirma. Mas, se o autocontrole e a manutenção da rotina dentro de casa não são tarefas fáceis, fora dela é ainda pior. Quando a família de Riverson vai para algum lugar onde não há entretenimento infantil, não tem jeito: “A gente se rende à tecnologia e acaba dando o celular para ele não ficar entediado”, lamenta, complementando que observa sempre o conteúdo dos vídeos que o filho assiste no aparelho.
Nesse sentido, informação e mudança de hábitos parecem ser as melhores soluções, como orienta a neuropediatra Julia Monteiro: “Alguns pais usam vídeos para colocar as crianças para dormir. Porém, a luz é estimulante e gera o efeito contrário”, explica. Para a psicóloga Mariana Menezes, a melhor opção diante do fato de as tecnologias digitais estarem tão imersas na sociedade atual, é usá-la com moderação. “Tem alguns aplicativos que são bem educativos, que são interessantes e podem ser utilizados, mas desde que a gente use o bom senso, utilize com moderação e escolha uma atividade que seja adequada à faixa etária da criança”, orienta.
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