Daniela Falcão: 'Para conseguir uma roupa de marca autoral de Salvador, você tem que ser muito por dentro da moda'

É jornalista e escreve para o Alô Alô Bahia. Instagram: @hilzacordeiro. Quer sugerir uma pauta? hilza.cordeiro@aloalobahia.com

Há três anos, as irmãs baianas Daniela e Gabriela Falcão entraram de cabeça na Nordestesse, plataforma através da qual fomentam negócios de moda e cultura nordestina. Prestes a lançar a primeira loja física pop-up do projeto em Salvador, Daniela conversou com o Alô Alô Bahia sobre como foram estes últimos anos como empresária, os frios na barriga, e quais observações coleciona sobre o mercado de moda da capital baiana e do Nordeste como um todo. 

A loja da Nordestesse será inaugurada na quinta-feira, 10 de agosto, no Shopping Barra, no piso L4. O espaço vai contar com 15 marcas nordestinas de moda, decoração e produtos gastronômicos, entre eles café, geleias, cachaças premiadas e doces. Saiba mais aqui.

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Alô Alô Bahia - A inauguração da loja em Salvador é outro marco importante para a Nordestesse. O que vocês estão planejando para esse evento de abertura e quais são as tuas expectativas para esse novo empreendimento? 

Daniela Falcão - As marcas que selecionamos são as melhores marcas da curadoria da Nordestesse, com a cara do público de Salvador. Teremos a Sau, que faz um beachwear mais pop, a Marina Bitu, que desfilou no São Paulo Fashion Week. A gente tentou fazer uma seleção de cada estado, com um mix para o público de Salvador com produtos que não necessariamente eles encontram aqui, mas que a gente acredita muito no potencial. Hoje em dia, para você conseguir ter uma roupa de uma marca de Salvador que seja autoral, você tem que ser muito por dentro da moda, porque é tudo muito de ateliê.

O foco nos três primeiros meses - agosto, setembro e outubro - será no consumidor de Salvador. No dia da abertura, os estilistas de fora da Bahia, diria que 80%, vão estar aqui porque eles querem conhecer Salvador. Salvador é entendida como um mercado desafiador para essas marcas. Até Recife tem marcas internacionais, por exemplo, e Fortaleza tem muita marca local. Salvador tem poder aquisitivo e é uma das economias mais fortes da região Nordeste, mas não tem uma cultura de moda arraigada. Tem grandes marcas do Sul e Sudeste, mas não tem nenhuma explosão regional nem local.

A ideia é que o consumidor de Salvador que queira valorizar a moda local e a moda nordestina, mas com um consumo premium, ele vai poder ir lá. É uma expectativa muito grande para a gente em Salvador. Nosso projeto nunca foi sobre fazer só a ponte do Nordeste com o Sudeste, mas do Nordeste com o próprio Nordeste. A ideia é mostrar que você pode empoderar a moda e a economia do Nordeste e se surpreender com a qualidade da moda que é feita aqui.
 

Alô Alô Bahia - A Nordestesse também abriu lojas pop-up em São Paulo e no Rio de Janeiro. Quais frutos vocês já colheram com isso e qual investimento foi feito?

Daniela Falcão - Nossa ideia não é ficar estagnado num lugar, é testar os mercados e levar as mensagens do Nordeste para um público diferente. No Rio, a gente ficou de novembro a março, período estratégico de férias. Em São Paulo, na loja que a gente tem hoje nos Jardins, a gente entrou em dezembro e ficaremos lá até o fim de agosto agora, e, em outubro, a gente vai estar em outro lugar em São Paulo, ainda mais poderoso, mas também por um período limitado. 

O Nordeste é uma coisa viva. Então, a gente vai ocupar diferentes espaços, de diferentes maneiras. A gente já esteve em Brasília, Belo Horizonte, em festivais. Eu tendo a ver que a Nordestesse fica melhor circulando. Nossa ideia é estar em todo lugar do Brasil, mas não ficar de maneira fixa porque entendemos que estamos num momento de educar o público para consumir cada marca, de contar a história de cada uma. Eles têm que entender do que é feito, como é feito, onde é feito, quantos artesãos estão envolvidos.

Em Salvador, eu quero que a gente encerre o nosso período aqui com as marcas participantes abrindo as suas próprias lojas. É nisso que a gente acredita. A gente não quer ser uma operação de varejo final, mas de um chamariz para quem quer conhecer o que diabos é essa moda autoral nordestina.

Então, a gente já fez um investimento até agora, somando a abertura da loja de SP e RJ, de R$ 650 mil só na operação de varejo, sem contar as outras operações da Nordestesse. Então, é realmente um investimento, mas não é o nosso fim, esse é um investimento que é o nosso meio, então ele tem que se pagar, ser lucrativo e tirar resultado.

Por que a gente está vindo para Salvador? Porque o festival pop-up que a gente fez no 2 de Fevereiro foi muito bom para todas as marcas. Claro, tinha o movimento dos turistas, mas a gente escolheu o Shopping Barra agora porque ele é o mais próximo da cadeia hoteleira. É o mais conveniente para o turista, e queremos incrementar essa oportunidade que existe do turista que vem aqui, para que ele tenha a chance de consumir moda e design autoral. Além disso, desse fator do turismo, o Barra é um shopping muito querido dos soteropolitanos, tem um valor afetivo, e as pessoas vão lá resolver a vida.

Alô Alô Bahia - O que uma marca precisa ser para fazer parte da Nordestesse? Em qual estágio essa marca deve estar para integrar o portfólio?

Daniela Falcão - Muitas marcas entram em contato com a gente perguntando por que não estão no projeto da loja física.  Às vezes, é porque não estão prontos para a demanda, porque têm uma produção muito artesanal. Para um fluxo de shopping, e para fazer valer o investimento das marcas, porque tem um investimento delas também, você precisa ter uma produção mínima de tanto, e a pessoa tem que estar pronta para essa produção. 

Isso é uma coisa que eu não falei em lugar nenhum ainda: A gente tem uma curadoria de 12 de marcas de moda, mas a gente tem espaço para mais duas. Por que elas não estão entrando nessa curadoria de agora? Porque a gente não quer que eles sejam nada fixo, para sempre. Essas que estão entrando agora vão durar. Mas, a ideia é que, a partir de setembro, a gente entre com marcas convidadas, que são marcas que não têm hoje uma grande produção para ficar o tempo inteiro, mas que querem testar o mercado de Salvador. 

A gente consegue ter marcas de tamanhos diferentes, mas todas elas têm que preservar nossa cultura, nossos materiais, saberes manuais, e visão que gere interesse global. Não pode ser nada muito genérico, tem que ter uma autoralidade. Essa é a barra de corte e tem que ter, pelo menos, um e-commerce funcionando.

Alô Alô Bahia - Como tem sido para você se ver nesse lugar de empreendedora? Essa é uma função diferente das que você exerceu antes, né? O que você tem aprendido e com quem tem aprendido? 

Daniela Falcão - É um aprendizado mútuo entre a gente e as marcas. Eu venho de uma experiência que não é só de jornalismo. Na Condé Nast, a gente fez o Veste Rio, que foi o grande mercado B2B de marcas. A gente entrou fazendo esse lado business. Mesmo como jornalista, meu lado business era muito forte. Agora, uma coisa é ter carteira assinada e para mim tem sido um grande aprendizado. E tem ansiedades, riscos que a gente assume. A gente está apoiando, mas tem um risco que é meu e da minha sócia. Eu tive 32 anos de carteira assinada e 3 de não ser CLT, como empreendedora, então dá muito frio na barriga.

O Nordestesse é um empreendimento e as marcas criadoras que estão com a gente também. Eles ensinam, a gente aprende, eu compartilho minha experiência. Na montagem da loja, no mix de produtos, tudo tem uma troca. Já aconteceu, por exemplo, de eu apostar numa marca que ia fazer sucesso e de repente não fez. Aí a gente senta com a marca e discute se foi o preço, se foi a forma como chegou. A gente não sabe a fórmula 100%, não tem uma varinha de condão. 

Foto: Divulgação e Caio Diniz

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