24 Feb 2022
Criação comercial de polvos na Espanha abre debate ético

Com base em décadas de investigação acadêmica, a Nueva Pescanova superou rivais no México e Japão, aperfeiçoando as condições de criação do animal em escala industrial. A projeção é que se produza 3 mil toneladas de polvos por ano até 2026, gerando centenas de empregos na ilha de Gran Canaria, uma das Ilhas Canárias da Espanha.
De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, entre 2010 e 2019, o valor do balão comercial do polvo a nível mundial aumentou de 1,3 milhão para 2,72 milhões de dólares, o que justifica as intenções da empresa. Os esforços anteriores de “cultivo” de polvo resultaram, no entanto, em elevada mortalidade, enquanto as tentativas com polvo selvagem resultaram em problemas de agressão, canibalismo e automutilação.
A Nueva Pescanova garante que o cenário atual é de otimização das condições do tanque, o que permitiu à empresa eliminar a agressão e criar cinco gerações em cativeiro. “Não encontramos comportamento canibal em nenhuma das nossas culturas”, disse um porta-voz à CNN. Mas nem todos estão convencidos, principalmente após o documentário “Professor Polvo”, vencedor do Oscar de 2020, que acendeu uma preocupação com o bem-estar da espécie.
Com base em análise de 300 estudos científicos, investigadores da London School of Economics concluíram que o polvo era capaz de experimentar angústia e felicidade, o que impossibilitaria uma agricultura de alto bem-estar. “Os polvos são extremamente inteligentes e extremamente curiosos. E é bem sabido que não são felizes em condições de cativeiro”, concordou Raul Garcia, representante da WWF (World Wide Fund for Nature), na Espanha, ONG internacional que atua na conservação, investigação e recuperação ambiental.
A empresa Nueva Pescanova ainda não forneceu detalhes específicos sobre o tamanho dos tanques, densidade ou alimentação, citando sigilo comercial. Segundo representantes, no entanto, os animais serão constantemente monitorados e seu bem-estar garantido. O método previsto seria uma alternativa aos bancos de pesca naturais, que estão sob pressão, com Itália, Coreia, Japão e Espanha entre os países que mais importam o produto.
“Se queremos continuar a consumir polvo, temos de procurar uma alternativa … porque a pesca já atingiu o seu limite. Por agora, a aquacultura é a única opção disponível”, disse Eduardo Almansa, do Instituto de Oceanografia da Espanha, responsável pelo desenvolvimento da tecnologia utilizada pela empresa, que diz reconhecer a preocupação em torno da sustentabilidade.
Ativistas, no entanto, acreditam que a solução é muito mais simples: não comer polvo. “Há tantas alternativas veganas maravilhosas por aí”, disse Carys Bennett, do PETA (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais, em inglês). Pescadores também estão desconfiados, mas por outros motivos. Acreditam que o ompreendimento pode baixar os preços e minar a reputação da qualidade de seus produtos. “As grandes empresas só querem cuidar dos seus resultados … não poderiam se importar menos com pequenas empresas como nós”, disse o pescador Pedro Luis Cervino Fernandez, à agência Reuters, temendo não ser capaz de competir com a agricultura industrial.
Foto: Glucosala/Pixabay. Também estamos no Instagram (@sitealoalobahia), Twitter (@Aloalo_Bahia) e Google Notícias.