Crescendo juntos: casais por trás de restaurantes baianos contam sobre o estilo de vida que escolheram

José Mion é jornalista, assessor de imprensa, apaixonado por Gastronomia e escreve para o Alô Alô Bahia.

"Deixa eu ver um lado ruim...”, tenta nos dizer Lisiane Arouca, chef pâtissier do Origem, Ori, Omi, e Minibar Gem, sobre trabalhar com o marido. Há quase 10 anos, ela está lado a lado – mais do que muitos casais –, de Fabrício Lemos, premiado chef à frente da cozinha quente dos mesmos estabelecimentos, referências na cidade. A dificuldade em ver algum lado negativo é fruto do amadurecimento e da sintonia do casal, que já fazia eventos e prestava consultorias antes de juntar os panos e sonhos futuros.
 
“Claro que todos os casais discutem e divergem. Somos pessoas diferentes. Quando a gente namorava, a gente já fazia alguns trabalhos juntos, então, naquele momento, a gente já percebeu que nos dávamos muito bem”, conta Lisi, como é carinhosamente chamada. Para ela, a experiência de dividir vida pessoal e trabalho com quem ama é enriquecedora.
 
“Me sinto privilegiada, porque são momentos de conquistas em que estamos juntos, vencendo dificuldades e conquistando sonhos, isso é muito prazeroso e um privilégio”, diz a chef, que, após quase uma década, vê muito mais benefícios. “No nosso caso, trabalhar junto só nos uniu mais. É muito bom pra relação ter o outro como aliado. Estamos cada vez mais firmes, mais sólidos, com um amor mais maduro e, a meu ver, mais leve”, celebra.
 
O sucesso nas duas esferas da vida – a pessoal e a profissional – não foi à toa. Escolhas sábias no início ajudaram a dar espaço para cada um exercer suas funções independentemente. “Quando decidimos abrir os restaurantes, optamos por, em cada unidade, termos cozinhas separadas, onde cada um comanda sua equipe e não se mete na decisão do outro. A gente trabalha em conjunto, divide as opiniões em relação a sabores e ingredientes, mas se um toma decisão na sua cozinha, o outro não pode interferir muito”, revela.
 
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Intimidade – Para Juli Holler (acima), por trás do La Taperia com o marido, o chef espanhol José Morchon, a “não surpresa” é um dos pontos mais positivos do trabalho ao lado do companheiro. “Você já não se surpreende. É só olhar no olho um do outro, que nos entendemos", diz.
 
O chef Ícaro Rosa, da Casa Jiló, em Itacaré – e que, em breve, ganhará unidade em Salvador, na Pituba – concorda: “quando você trabalha com alguém que você conhece intimamente, isso ajuda no processo de integração; já sabe o que gosta e o que não gosta", diz o carioca, que divide as tarefas com a esposa, Elen Luz, há 13 anos. No decorrer desse tempo, foram crescendo e descobrindo a profissão juntos.
 
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Esse “descobrir juntos” permite um amadurecimento simultâneo da relação e do negócio, como é o caso de Juli e Morchon, que, há quase 10 anos, trabalham no mesmo projeto. “Por sermos casados, já temos uma sintonia muito boa de ideais e de valores. As atitudes com o público e com funcionários, por exemplo, são parecidas”, explica a empresária, que, apesar de entender a importância das suas funções, mais administrativas, faz questão de deixar o maridão, o talentoso cozinheiro, brilhar. “O fogão mesmo é que é o personagem principal de um restaurante”, resume.
 
“Ter restaurante não é uma profissão, é um estilo de vida, então, abdicamos de muitas coisas para seguir fazendo um trabalho sério”, reflete sobre as dificuldades, não necessariamente vistas como um “lado ruim” da escolha que fizeram. “A parte difícil pode ser fruto da rotina mesmo, do estresse, do cansaço mútuo. Decidimos uma coisa pra fazer da vida que não é das mais fáceis, então, a gente não descansa, precisa pesar as prioridades”, conta.
 
A visão de Juli é compartilhada por Ícaro, que vê a intimidade como algo bom e ruim ao mesmo tempo, se o casal não souber dosar. "Às vezes poderíamos estar curtindo um ao outro e acabamos indo pro assunto do trabalho", revela. Assim como os outros casais dessa matéria, ele e Elen, que vieram à Bahia saturados do Rio de Janeiro, cumprem funções diferentes, evitando bater de frente no dia a dia profissional. À frente de uma guest house de frente pro mar, com 6 quartos e restaurante no quintal, o casal vive um sonho, mas real, e enxergam na rotina a relação de companheirismo como o complemento das duas personalidades e funções.
 
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Time mais forte – "Nossa profissão, de uma maneira geral, demanda muito tempo, mais ainda se você tem seu próprio restaurante. Não sobra tanto tempo, então, acho maravilhoso trabalharmos juntos", conta Katrin Bassi, do Manga. "Não gosto de trabalhar com ninguém mais do que com Dante e não confio em ninguém mais do que confio nele. Ele tem muitas qualidades que eu não tenho e eu tenho muitas que ele não tem. Isso nos faz um time muito forte, avalia a alemã casada com o baiano.
 
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Eles escolheram morar, inclusive, no mesmo imóvel do restaurante, ali pertinho do Pasta em Casa, no Rio Vermelho, onde outro casal divide sonhos e desafios. Para o chef Celso Vieira, à frente da cozinha do italiano, dividir o projeto profissional com a esposa Valeska Calazans permite “a força de trabalho dobrada”. A questão da confiança e da previsibilidade, nos últimos 12 anos, tem sido outro ponto positivo da escolha de trabalhar com quem ele divide o mesmo teto e a intimidade.
 
Segundo ele, dissociar o que é da vida pessoal e o que é da profissional é uma dificuldade que deve ser superada, não levando o restaurante pra casa, “pra que você consiga ter vida amorosa, cuidar dos filhos, curtir a vida social”, pondera, antes de Valeska concluir: “no resumo de tudo, tem pontos mais positivos do que negativos”.
 
Esse “ponto de equilíbrio” entre o profissional e o pessoal é uma das maiores dificuldades, de acordo com Vivi Vidal (abaixo), fiel companheira do chef Juan Vidal, à frente da Casa Vidal, no Caminho das Árvores. “Quando o casal atinge (esse ponto de equilíbrio), é mais fácil ir adiante. No início, parece impossível, mas quando se aprende, não há sociedade melhor”, reflete a empresária. “Trabalhar com o companheiro é o construir juntos, batalhar juntos, viver as dificuldades juntos, como um só, como no matrimônio. É celebrar junto, é superar junto”, finaliza.
 
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Fotos: Divulgação, Angeluci Figueiredo/Correio, Reprodução, Raul Spinassé/Divulgação e Divulgação. Também estamos no Instagram (@sitealoalobahia), Twitter (@Aloalo_Bahia) e Google Notícias.

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