Conheça Kim Villanelle, uma das primeiras PMs trans da Bahia

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Natural de Feira de Santana, a policial militar Kim Villanelle, de 39 anos, se sentia prisioneira dentro de si mesma. Foi somente depois de se tornar uma das primeiras mulheres trans a ocupar as fileiras da PM da Bahia que ela rompeu com as amarras sociais e se tornou destemida para, hoje, ser quem é. “Tenho medo da falta de medo”, contou ela à repórter Larissa Almeida, do Jornal Correio, garantindo se sentir capaz de enfrentar qualquer obstáculo no seu caminho.

No entanto, nem sempre foi assim. Caçula da família, a soldado passou grande parte da infância com medo. Na escola, era reconhecida como estudiosa na sala de aula, mas era alvo dos colegas nos intervalos. Na volta para casa, abria trilha pelos matos para evitar o caminho principal pelo qual jovens e adultos passavam disparando palavras de ódio, quando não agressões físicas.

“Me batiam pelo fato de eu ser gay. Me chamavam de travesti porque, na época, não existia o termo trans. Batiam simplesmente porque eu andava rebolando”, relata.

Seus agressores eram, na maioria, pessoas adultas e do sexo masculino. Esses fatores intimidavam Kim que, sendo ainda jovem, acreditou que seria melhor lidar com tudo aquilo sozinha. Escondeu dos pais todas as violências que sofria, de modo que cada hematoma que surgia era atribuído a uma queda de bicicleta ou um tropeço na rua. Até a marca do ferimento causado por uma faca foi ocultada pela desculpa de ter se machucado com ferro.

“Eu trago muitas marcas no corpo e na alma dessas violências que sofri. Sempre evitei que meus pais soubessem porque achava que eles não iam saber resolver, porque em casa eu não sofria nada de discriminação”, conta Kim.

A solidão causada pelos episódios de homofobia que guardava em segredo fez Kim chegar a ter vontade de morrer. Contudo, através de terapia e apoio de amigos, ela conseguiu superar ou lidar com os traumas. 

Em 2012, ainda trabalhava como agente comunitária e cursava Direito na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) quando seus colegas militares a incentivaram a se inscrever no concurso da PM.

Aprovada em sexto lugar, o resultado a surpreendeu, mas não mais do que o caminho que estava prestes a percorrer. Kim chegou à corporação em 2014 e conta que depois que sua superior, a primeira comandante do sexo feminino da 64ª Companhia Independente de Polícia Militar de Feira, viu suas fotos maquiadas, a postura dentro da corporação mudou. 

Ela não só recebeu todo o apoio da Major Lílian, como também o carinho dos colegas. “Posso dizer que a Polícia Militar foi o primeiro lugar que me acolheu quando eu revelei que era trans e não ia mais cortar meu cabelo”, afirma.

Com apoio da família, dos colegas de trabalho e do marido, a PM declara que está no auge da felicidade e incentiva outras pessoas trans a não temerem. “Por experiência própria, eu digo que quando você evolui, o mundo a sua volta inevitavelmente evolui e sempre em favor de você”, contou. Com informações do Jornal Correio.

Foto: Paula Fróes/Correio. Também estamos no Instagram (@sitealoalobahia), Twitter (@Aloalo_Bahia) e Google Notícias.

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