Conheça Davi Portugal, artista baiano que está lançando carreira musical na Espanha

É jornalista e escreve para o Alô Alô Bahia. Instagram: @hilzacordeiro. Quer sugerir uma pauta? hilza.cordeiro@aloalobahia.com

Filho de pai evangélico, o baiano Davi Portugal começou a ter experiências com a música na igreja, em São Francisco do Conde, no Recôncavo Baiano. Aos 19 anos, lançou seu primeiro disco, intitulado 'Adoração e Glória'. Agora, vivendo na Espanha, e afastado da religião, ele lança as bases de um recomeço na carreira depois de um longo processo de autoreconhecimento como homem gay. Davi estreou com o single Zumbi, abordando suas origens e denúncias contra racismo e homofobia.

Enfermeiro de formação e dono de um restaurante, o sanfranciscano deixou a cidade onde foi criado para trás e seguiu rumo a uma nova vida do outro lado do oceano, onde está há 7 anos. De acordo com Davi, a ida para a Espanha foi mesmo uma fuga. Ele chegou a ser pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular e queria virar a página, vivendo num lugar em que a sua sexualidade pudesse ser mais livre.

"Eu tive que esconder a minha sexualidade. Fui obreiro, missionário, pastor, mas meu coração não estava mais ali, minha consciência se expandiu. Eu fui perseguido, foi um período muito duro, fiquei bem transtornado. A gente fica bem doente da cabeça e aí eu resolvi fugir. Por isso a minha música chama Zumbi, que é como Caetano citou na música dele, o novo quilombo de Zumbi, e aqui eu estou para contar a minha história", conta ele.

O single Zumbi é um afrobeat e foi produzido por Tito Oliveira, indicado ao Grammy Latino 2020 pelo disco 'Autêntica', de Margareth Menezes. A música ganhou um clipe gravado em Montjuic, colina que é ponto turístico de Barcelona. A canção faz parte do EP Multiverso, que reúne canções sobre as facetas de Davi, sobre infância no Recôncavo, ancestralidade, homofobia, dor, migração, família, rompimento, libertação, amor e autoconhecimento.

Eu fugi dessa escuridão que me apavora
Da ausência de luz que ali vigora
Do inimigo que te chama irmão

- trecho da canção

Racismo 

A vida na Europa, no entanto, também não foi lá as mil maravilhas. "Eu vim pensando em ser eu mesmo, onde ninguém ia me olhar torto e me julgar. Isso eu tentei fazer. Mas eu sou um homem gay, preto, latino, imigrante num país europeu, então é muita barra pesada. O racismo acontece e não é declarado, é ainda mais velado. A questão de Vini Jr. repercutiu bastante aqui, mas não teve a mesma repercussão que o caso de Daniel Alves", observa. 

Davi Portugal relata situações em que diz ter sido vítima de racismo, desde mulheres que escondem as bolsas ao lhe ver até casos mais extremos como quando ele tentou trocar um ferro de passar roupa que havia comprado e, ao sair do estabelecimento, foi acusado de ter roubado o objeto da loja.

"Aqui os programas de TV, os realitys, as propagandas são brancas, é tudo muito branco. Parece o Brasil de 1990. As apresentadoras, os telejornalistas, os modelos. Essa não era para ser uma discussão só dos países de maioria negra, até porque aqui existe um grande contingente de pessoas negras. Não vejo política de inclusão racial aqui, eles simplesmente dizem que não são racistas, mas não é bem assim", analisa. 

Foto: Divulgação

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