Conheça Calé, empresário que definiu a realidade de Trancoso e segue com novos projetos para o vilarejo

José Mion é jornalista, assessor de imprensa, apaixonado por Gastronomia e escreve para o Alô Alô Bahia.

Carlos Eduardo Régis Bittencourt, conhecido como Calé, chegou em Trancoso em setembro de 1975. Executivo da Editora Abril, em São Paulo, na época, queria mudar de vida. Com um casal de amigos e a namorada, percorreu o litoral de carro, se hospedando em pousadinhas e acampando. Chegou assim a Porto Seguro, que, apesar de bonita, não o atraiu. Foi pelo Quadrado que ele se encantou e foi onde começou a história simultânea de sucesso: dele e do local.

Siga o portal Alô Alô Bahia no Instagram
 
Chegou ao vilarejo quando o Quadrado mal existia, com acesso precário e nada ocupado. Lá, numa portinha aberta, conheceu Valzinho, já falecido, um ótimo carpinteiro, com quem trabalhou por muitos anos. Um tio dele lhe vendeu o primeiro terreno, de frente para o mar da Praia dos Coqueiros. Quando comprou a propriedade, vendeu carro, moto, máquina fotográfica e os equipamentos de um laboratório fotográfico. Desde então, nenhum empreendimento imobiliário importante ficou sem sua consultoria, participação ou investimento. Por isso, chegou a ser chamado de “dono de Trancoso”, personagem onipresente que teve sua história com o destino contada em detalhes pelo jornal Valor Econômico, do Grupo Globo.
 
Leia mais notícias na aba Notas

"Fiquei muitos anos sem contar para o pessoal de São Paulo e do Rio onde eu morava. Era ciúmes, vontade de preservar ao máximo essa experiência", contou o empresário à repórter Maria da Paz Trefaut. Ainda assim, artistas como a atriz Sônia Braga estiveram por lá no fim dos anos 70, e vários filmes foram rodados na região, numa época em que tudo era muito simples, destoando do espírito rústico chique que fez do destino o que ele é hoje.
0jJQAG.md.jpg
Por volta de 1979, pessoas passaram a procurar terrenos e Calé achou que era hora de se mexer e começou a comprar também. Enturmado com os nativos, mergulhou na realidade local. “Foi uma aula de vida. A mata, as árvores, os bichos, a maré, a lua. Há todo um universo que aprendi com pessoas que foram meus professores. Aprendi a trabalhar com madeira, com ferramentas. Depois a construir casas para amigos e conhecidos. Não tinha estradas e comecei a construir também, aprendi a fazer pontes. Fiz a estrada que vai para Caraíva”, revelou.
0jd3Ab.md.jpg
Das primeiras casas aos condomínios, como Rio da Barra, Altos de Trancoso e Terravista, foi um pulo. E a visão dele justifica, em grande parte, o sucesso do destino. A decisão era sempre a de afastar a estrada para preservar o litoral. “Comprei muitas terras aqui, tive uma visão estratégica e fiz uma regra com uma divisão dos terrenos com metragens boas para não repetir os erros que foram cometidos no Brasil todo. Se fosse feita uma coisa errada nesta área toda, o futuro estaria comprometido”, disse.

Leia mais notícias de Trancoso
 
Para assegurar sua estratégia de desenvolvimento, se embrenhou na política, elegendo-se vereador por Porto Seguro. Cumpriu mandato entre 1993 e 1996, tendo sido presidente da Câmara no primeiro ano. Teve ótimas relações com Antônio Carlos Magalhães. “Ah, sem o apoio dele, você não fazia nada na Bahia”, confidencia.
0jdCiB.md.jpg
Seu olhar e investimentos definiram o futuro de Trancoso, incluindo sua participação na negociação de recursos com o Banco do Nordeste para tratamento de esgoto em Arraial da Ajuda, Trancoso e Porto Seguro e a construção da pista do aeroporto. “Criou uma infraestrutura que permitiu a chegada de gente direto da Europa pra cá”, pondera. Segundo ele, inclusive, o fato de Trancoso ter se tornado um destino prioritariamente da elite pode ter contribuído para sua preservação.
0jdlfI.md.jpg
Apaixonado por história, antropologia e arqueologia, pensou em construir um museu com urnas funerárias, sítios e cerâmicas de origem Aratu encontrados na construção do condomínio Terravista. “Nunca conseguimos... Brasil, né?”, reclama novamente, lembrando de quando brigou pela iluminação do Quadrado, onde a Coelba queria colocar postes de concreto. O grupo liderado por ele impediu: só se fosse cabeamento subterrâneo. “Um dos diretores me disse que nunca tinha feito isso nem no Pelourinho, então, como Trancoso ia querer? Então, não faz, a gente prefere ficar sem luz a ter poste no meio do Quadrado. Aí o Iphan ajudou e conseguimos”, revela.
0jd1UX.md.jpg
Sobre os planos futuros, Calé acha que ainda há muita coisa para fazer por lá, como a criação de um fundo imobiliário e a plantação de agroflorestas, em parceria com agrônomos, que usam uma área degradada para fazer reflorestamento com plantas frutíferas como mangueiras, abacateiros e jabuticabeiras. “O próximo passo é atrair uma boa escola internacional. Tem algumas querendo vir. Eu ajudo, dependendo do projeto até dou o terreno. Hoje, várias profissões permitem morar aqui”, reflete.

Fotos: Divulgação. Siga o insta @sitealoalobahia
 

NOTAS RECENTES

TRENDS

As mais lidas dos últimos 7 dias