Conheça a Arquivo, empresa de Salvador que é pioneira no Brasil em desmontagem de imóveis e reuso de materiais

A construção de hábitos de preservação dos recursos naturais pode acontecer, paradoxalmente, de um ato de desconstrução. É o que mostra uma empresa baiana que desenvolve um trabalho pioneiro no ramo da engenharia e arquitetura que já começa a se tornar tendência.

A Arquivo, fundada no ano passado pelos arquitetos Pedro Alban e Natália Lessa (foto), é uma empresa e uma think-tank (fábrica de ideias) voltadas à criação de um mercado de reaproveitamento de elementos de arquitetura em construções formais com exigências normativas e logísticas elevadas.

Considerada uma prática de redução de resíduos –diferente da reciclagem, que objetiva a revalorização dos mesmos –, o reemprego de elementos permite que edifícios demolidos não percam a totalidade de seu valor, e tem grande potencial de gerar empregos locais em desmontagem, recuperação e revenda.

“A empresa existe há seis meses e tem tido uma aceitação incrível tanto por parte dos fornecedores de imóveis – empresas como a incorporadora Capa e a construtora Civil, a Dona e a Leão nos deram acesso a edifícios programados para demolição para que pudéssemos fazer os primeiros testes de desmontagem e viabilidade de reuso – quanto de arquitetos. O escritório ARQGRAF e a arquiteta Letícia Grappi (ar-terra bioconstrução), por exemplo, que tem testado projetos compostos quase completamente de elementos de reuso como telhado, assoalhos, estrutura e esquadrias”, explica Alban, em entrevista ao Alô Alô.
 

Segundo ele, já existem práticas de reuso como ferros-velhos ou revendas de produtos por sites como o OLX, entretanto, isso está fora do mercado da arquitetura formal, já que é difícil operar com esses fornecedores. “Não há possibilidade de reserva, medidas precisas, e certificação de procedência. Com uma dedicação logística e de qualidade, além de um braço de consultoria para auxiliar o planejamento, a especificação e a reinserção somos de fato os únicos”, diz ele, citando o pioneirismo da sua empresa.

A principal referência é uma cooperativa chamada Rotor Deconstruction, com sede na Bélgica. Na União Europeia, berço do reuso contemporâneo, a meta é aumentar em 50% a quantidade de elementos reutilizados até 2036.
 

Dificuldades
Segundo Pedro Alban, que também é artista visual, há duas dificuldades no Brasil para que a tendência estrangeira também se consolide por aqui. “A primeira é manter o crescimento da demanda por materiais de reuso – algo que muitos ainda resistem – de modo a justificar a desmontagem de cada vez mais edifícios. Como damos um retorno financeiro para algo que antes era um custo, ainda é bem mais fácil arranjar materiais que clientes”, lamenta ele, embora otimista por uma mudança de cenário.

A segunda dificuldade tem a ver com localização. “Encontrar um terreno na região central para realizar trabalhos de estoque e recuperação é difícil. Na Europa, empresas como a nossa frequentemente fecham parcerias com o estado ou construtoras para ocupar terrenos por um tempo determinado. Estar no centro diminui os custos (ambientais e financeiros) do transporte e permite viabilizar a extração de uma quantidade maior de materiais da ‘mina urbana’ a valores competitivos com os equivalentes novos”, completa o arquiteto.

Há ainda um terceiro empecilho, que depende de uma mudança de cultura da própria clientela: migrar a reinserção do reuso do ramo residencial – um pouco mais livre – para a arquitetura comercial e para a incorporação.

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Futuro
Para Pedro Alban, cidades como Salvador tem benefícios extras em relação ao serviço. “Acreditamos que cidades que não sejam estáticas, mas que mudem sem jogar suas memórias e seu patrimônio material fora, isso vai um pouco além da sustentabilidade”, comentou.

E a ideia da Arquivo não é crescer sozinha, mas criar um ecossistema que incentive a prática de reuso e preservação. “Que uma série de empresas surjam com preocupações parecidas, a cidade do futuro tem que ser tão desmontável quanto um lego (o que tem chamado de design for deconstruction). Queremos crescer e que desmontar, ao invés de demolir, seja a regra, não a exceção. Mas nosso plano também passa por profissionalizar os atores do ramo: arquitetos, construtores, seguradoras e fornecedores de material”, conclui ele, sobre os próximos passos a serem tomados a partir da ascensão da Arquivo.

Confira o Instagram @arquivo.ssa para conferir alguns dos trabalhos desenvolvidos pela empresa e acesse o site para saber mais.

Foto: Rodrigo Sena/Divulgação. Siga a gente no Instagram @sitealoalobahia e no Twitter @aloalo_bahia.

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