Como Jorge Amado e Dorival Caymmi viraram referências na formação de Vladimir Putin

Em maio do ano passado, levei à coluna Baianidades, que assino no Jornal Correio*, o que para mim parecia uma história pouco conhecida por aqui: a música ‘Suíte do Pescador (Canção da Partida)’, de Dorival Caymmi, é um clássico há décadas na Rússia, talvez já com status de hino desde a antiga União Soviética.

Esse sucesso que atravessa gerações envolve uma espécie de dobradinha entre Caymmi e seu amigo, o escritor Jorge Amado, autor do livro ‘Capitães da Areia’. Foi ele quem indicou Dorival como compositor da trilha sonora para uma adaptação cinematográfica, feita nos EUA, do seu livro sobre trombadinhas da Cidade Baixa. 

A película sombria, gravada em Salvador e região no início dos anos 70, foi um sucesso retumbante (e inesperado) nos cinemas soviéticos, e levou ‘Suíte do Pescador’ (aquela do ‘minha jangada vai sair pro mar...’) a reboque, com dezenas de outras regravações e versões locais que tornaram a melodia tão reconhecível entre os russos como ‘Imagine’, de John Lennon, entre os brasileiros.

Bom, é uma longa história, que eu prefiro que você leia na própria coluna clicando aqui, mas há uma informação que me escapava, e que é a principal novidade trazida essa semana por uma reportagem da BBC Brasil, de autoria de Thomas Pappon (leia aqui) – também consta em formato podcast logo abaixo.



O filme baseado no livro de Amado deixou marcas tão profundas em Moscou e adjacências que mereceu citação do presidente russo, Vladimir Putin, em um de seus livros autobiográficos.

“Nos primeiros anos de escola, não me aceitaram entre os 'pioneiros' (um movimento semelhante aos escoteiros, mas que seguia a ideologia soviética). Afinal, criei-me no pátio, onde a autoafirmação de uma criança se manifesta de maneira totalmente diversa. Viver no pátio e criar-se nele é equivalente a viver numa selva. É muito parecido”, inicia Putin num trecho da obra – o sentido de “pátio” é mais bem explicado na reportagem da BBC.

“No pátio, a vida é livre. A vida na rua é, em si mesma, muito livre. Exatamente como no filme Capitães da Areia. Para a gente era o mesmo. A diferença estava talvez apenas nas condições climáticas. Em Capitães... era mais quente. E lá a garotada se reunia na praia. Mas de resto, o que acontecia com eles e a gente era absolutamente a mesma coisa’”, escreve Putin ao comparar os climas baiano e russo suscitado por ‘The Sandpit Generals’, nome original em inglês da adaptação de ‘Capitães’.



Como se vê, embora não aparente combinar com brasileiros-brasileiros corações, Putin foi, na juventude, um admirador da cultura baiana, e a assimilou na sua formação pessoal e política. Deu certo? Você que vai dizer...

Recomendo, durante a reflexão, a leitura e a escuta dos materiais indicados acima, e ainda trago uma faixa bônus, dentro da mesma temática, que também já tinha jogado 'dos tempos' lá em Baianidades: O livro russo que Jorge Amado traduziu e teria inspirado ‘Capitães da Areia’.

Fotos: Reprodução/AFP e Otto Stupakoff/IMS. Siga a gente no Instagram @sitealoalobahia e no Twitter @aloalo_bahia

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