Com presença marcante na Bahia, Lina Bo Bardi vence Leão de Ouro de Veneza pelo conjunto da obra

Lina Bo Bardi, por Bob Wolfenson

Arquiteta responsável por célebres projetos, especialmente em São Paulo e na Bahia, a arquiteta italiana naturalizada brasileira Lina Bo Bardi recebeu, de forma póstuma, um dos mais importantes prêmios da arquitetura mundial: o Leão de Ouro especial em memória da 17ª Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, que será aberta ao público no dia 22 de maio de 2021. O anúncio foi feito nessa segunda-feira (8), Dia Internacional da Mulher. 

Arquiteta, designer, cenógrafa, artista e crítica, Lina nos deixou em 1992 já com um legado de projetos importantes para a Bahia, como a reforma do Solar do Unhão (atual MAM-BA), além da criação da Casa do Benin e do espaço Coaty (inicialmente um restaurante), em Salvador.

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Espaço Coaty, na Ladeira da Misericórdia (Fotos: Betto Jr/Arquivo CORREIO)

Sua obra mais conhecida do público, também pela magnitude, é o Museu de Arte de São Paulo (MASP), principal ponto turístico da maior cidade do Brasil, onde também assinou os projetos do Sesc Pompeia, do Teatro Oficina (ao lado de Edson Elito) e da Casa de Vidro. 

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Sesc Pompeia (Foto: Acervo Marcelo Ferraz/Divulgação)

O Leão de Ouro pelo conjunto da obra faz dela a primeira brasileira a receber esse reconhecimento. É a terceira representante do país com o troféu, que já teve como indicados também Oscar Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha, em 1996 e 2016, respectivamente.

Lina foi também designer (criou peças clássicas como a Bardi’s Bowl, a cadeira tripé e a cadeira Girafinha), curadora de mostras, ótima desenhista e criadora de projetos expográficos inovadores – são seus os cavaletes de vidro do MASP. 

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MASP (Foto: Eduardo Ortega/Masp/Divulgação)

Além disso, foi uma pensadora original e radical, que fundou revistas e escreveu textos ao longo de toda a vida. 

Festejada 
O reconhecimento em Veneza foi proposto por Hashim Sarkis, curador da Bienal de Arquitetura 2021 e recebido pelo Conselho de Administração do evento. Segundo ele, trata-se de “uma homenagem a uma mulher que simplesmente representa o arquiteto em seu melhor sentido”. 

Para a presidente do CAU Brasil, Nadia Somekh, o anúncio da premiação de Lina Bo Bardi no Dia Internacional da Mulher dá um gosto especial à conquista. “É uma honra e amplia o significado da data para nós, arquitetas e urbanistas brasileiras, pois homenageia toda produção que ela fez no Brasil e que se constitui num ícone da nossa arquitetura”, comentou.

Guerra e paz
Achillina Bo, chamada Lina, nasceu em Roma em 1914. Em tempos de guerra e crises, passou por momentos complicados na infância. Vinda de uma família genovesa de poucos recursos financeiros, a arquiteta sempre teve grande atuação no cenário político, seja no Brasil ou na Itália. Conviveu intensamente com a guerra, com o surgimento e a ascensão do fascismo italiano. Em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, chegou a ter seu escritório bombardeado.

Lina Bo Bardi teve participação no partido comunista italiano, inclusive com atuação na resistência contra a invasão alemã, também em 43. A arquiteta chegou a chefiar e a atuar em revistas, com a “L’Illustrazione Italiana” e “A – Cultura della Vita”. 

Estava formada em arquitetura desde 39, quando mudou-se para Milão e conheceu Gio Ponti, iniciando uma parceria lendária com o arquiteto. 

Lina na Bahia 
Em 1947, Lina mudou-se para o Brasil com o marido Pietro Maria Bardi. Entre 1957 e 1969, construiu o MASP, e em parte do período também esteve em Salvador, quando comandou as obras do Solar do Unhão, criando o Museu de Arte Popular e o próprio MAM-BA.

Marília Gil assume cargo no Museu de Arte Moderna da Bahia
MAM-BA (Foto: Divulgação)

A segunda passagem foi a partir de 1986, convidada pelo então prefeito de Salvador, Mário Kertész, para um novo período de realizações. O desafio principal agora envolvia o Centro Histórico, que estava fisicamente em ruínas: “havia sofrido um terremoto voluntário”, comentava Lina. 

Dessa nova temporada, que terminaria meses antes de seu falecimento, ocorrido em 92, atuou em locais como a Ladeira da Misericórdia, uma das áreas abandonadas da região. Ao lado do arquiteto João Filgueiras Limas, o Lelé, também in memoriam, atuou no Plano de Recuperação do Centro Histórico, criando o espaço Coaty, estrutura modernista na Misericórdia, além da Casa do Benin, no Pelourinho, e o Teatro Gregório de Matos, entre outros marcos que até hoje atraem visitantes à cidade para conhecer o seu trabalho de perto.

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