Cia. Baiana de Patifaria entrega sede: 'memória do teatro baiano apagada'

José Mion é jornalista, assessor de imprensa, apaixonado por Gastronomia e escreve para o Alô Alô Bahia.

A frente fria que passa por Salvador tem deixado os dias mais cinzas e, no caso do ator Lelo Filho, também mais tristes. Em postagem nas redes sociais, nesta quinta-feira (27), um dos fundadores da Cia. Baiana de Patifaria anunciou a entrega do casarão-sede do grupo, na Barra, onde era guardado e mantido grande parte do acervo de cenários e figurinos.

"Muita chuva e uma ponta de tristeza por termos que abrir mão de um sonho realizado há longos anos e a duras penas", desabafou o também produtor, diretor e dramaturgo. "Não há gestor em nossa área que se debruce para lutar e achar meios que minimizem os problemas e diminuam custos em inúmeras taxas para sedes artísticas, centros culturais e para teatros", seguiu.
 
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Segundo Lelo, em contato com o Alô Alô Bahia, a sede funcionava como cérebro e coração da companhia, que completa 36 anos de fundação em pouco mais de um mês. O grupo teatral, responsável por sucessos como "A Bofetada", chegou a anunciar o encerramento de suas atividades em 2021, em meio à falta de apoio do poder público durante a pandemia, mas, graças a uma parceria com a Fundação Gregório de Mattos (FGM), voltou à cena em 2022.

O espaço-sede foi mantido por 23 anos com recursos de bilheteria. "O Brasil tem sido muito cruel com os artistas que, geralmente, são os primeiros que botam a cara pra bater em defesa de qualquer que seja a melhoria para a sociedade", reclamou o artista, que não exime o governo baiano de responsabilidade. "A gente reclamou do 'desgoverno' anterior durante 4 anos e o governo local faz muito parecido, ao não estimular, incentivar e apoiar", sentenciou.
 
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O trabalho de "desproduzir" a sede, tirando toda a memória do grupo, já acontece há um mês, com postagens nas redes sociais. "Eu não marquei secretários, ministra da Cultura, governador, prefeito... as pessoas fizeram isso, pra ver se uma delas perguntava 'qual o custo anual?', 'quantas sessões de espetáculo eu posso comprar para amortizar as dívidas?' e nenhum, nenhum gestor (entrou em contato)", revelou o artista, cujos custos fixos com aluguel e IPTU são de R$ 36 mil anuais.

"Confesso que, até decidir esvaziar esse casarão e devolver a chave, eu pensei 'vai tocar um telefone, vai chegar um e-mail', mas a gente não está pedindo nada a ninguém. A gente gostaria de ter algum tipo de apoio, sim, mas com uma contrapartida, um espetáculo, um festival", revela o ator, que disse ter mantido contato com deputados e vereadores, participado de lives e audiências, durante a pandemia, para tentar minimizar os problemas, mas sem resultados.
 
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"Eu não sou o primeiro grupo a encerrar atividades dentro de uma sede e chegou a nossa vez. É uma pena que uma parte da memória do teatro baiano esteja sendo apagada sem que nenhum e-mail ou telefonema tenha sido dado", disse Lelo, que seguirá com as atividades on-line na troca de informações com a equipe, demonstrando preocupação especial com o acervo histórico.
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Fotos: Divulgação e Reprodução/Redes Sociais.

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