Baía de Todos-os-Santos sedia projeto inovador para salvar corais

Com informações do Correio24Horas

Empresas investem em área que abriga rica vida marinha e enorme potencial econômico

Em seus 1,2 mil quilômetros quadrados de área, a Baía de Todos-os-Santos abriga um volume infindável de vida. O local em que águas abrigadas do Oceano Atlântico se encontram com os rios Paraguaçu, Subaé, Jaguaripe e Sergi é próspero para a vida marinha, mas não apenas para ela. Um terço da economia baiana se desenvolve na borda da maior baía tropical do planeta e os compromissos de responsabilidade da agenda ESG têm motivado a iniciativa privada a investir cada vez mais no cuidado da vida debaixo da água, mas também fora dela.

Com mais de 50 ilhas e numa área em que existem 18 municípios, a BTS abriga estruturas portuárias, unidades industriais e a construção naval, além de infraestrutura para o comércio e serviços, que convivem com comunidades tradicionais. E um exemplo de uma relação bem construída pode ser percebido no projeto Corais de Maré. Além do desenvolvimento de uma técnica inovadora para promover a restauração dos corais, o projeto, capitaneado pela Braskem, focou na capacitação da comunidade de Ilha de Maré.

Em uma iniciativa inovadora de restauração de recifes, o uso do poliacetal, um tipo de plástico conhecido por sua resistência, fez o coral nativo Millepora alcicornis dobrar a sua taxa de crescimento. O experimento foi realizado no primeiro ano de atividades do projeto Corais de Maré, desenvolvido pela empresa Carbono 14, em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e o Instituto de Pesca Artesanal de Ilha de Maré, com patrocínio da Braskem.

A ação utiliza o esqueleto do Coral-sol, espécie considerada invasora na região, como base na produção de sementeiras para cultivo do coral nativo. Essas sementeiras foram instaladas em berçários no fundo do mar, na Ilha de Maré, sendo fixadas com plástico, para potencializar o crescimento dos espécimes. Depois foram transferidas para povoar uma área de recifes, de cinco mil metros quadrados, que fica aproximadamente a seis quilômetros da costa.

“Mesmo com adversidades durante o experimento, como uma tempestade que avariou algumas sementeiras, percebemos que o coral nativo dobrou sua taxa de crescimento com o uso do poliacetal, passando de 7 cm em seis meses para os mesmos 7 cm em três meses”, destaca o professor de Oceanografia Biológica no Instituto de Geociências da UFBA, Igor Cruz.

Segundo ele, o próximo passo é repetir o experimento na mesma profundida de cinco metros e também realizá-lo na profundidade de dois metros para continuar a pesquisa. Esses novos experimentos devem testar também polietileno, PVC e nylon, além de outros materiais, como aço inox e cerâmica.

O projeto visa recuperar os recifes da Baía de Todos-os-Santos, que teve a quantidade de corais reduzida em 50% desde 2003, de acordo com levantamento de pesquisadores da UFBA. Essenciais para a biodiversidade, esses ecossistemas abrigam pelo menos 25% das espécies marinhas, além de contribuírem para a atividade econômica e de subsistência das comunidades costeiras, de acordo com estudos da Rede Global de Monitoramento de Recifes de Coral (GCRMN).

“A biodiversidade marinha da Baía de Todos-os-Santos está ameaçada pelo Coral-sol, espécie invasora, contudo seu esqueleto serve de matéria-prima para recuperamos o nosso, pois possui carbonato de cálcio, um material riquíssimo”, explica o CEO da Carbono 14, José Roberto Caldas, conhecido como Zé Pescador. Ele acrescenta que a utilização do plástico no projeto se provou eficiente. “Testamos alguns tipos de plástico, como PVC, Nylon Polietileno e Poliacetal, mas este último trouxe o melhor retorno”, afirma.

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Para a gerente de Relações Institucionais da Braskem na Bahia, Magnólia Borges, o primeiro ano do projeto Corais de Maré demonstrou a capacidade do plástico em melhorar a vida das pessoas. “A Braskem patrocina o Corais de Maré por acreditar no potencial do plástico como uma solução simples e eficaz para construção de um futuro sustentável. É possível usufruir de todas as qualidades do material e ainda oferecer benefícios para o meio ambiente, como nos revela o projeto”, destaca.

Capacitação da comunidade

Além do desenvolvimento da técnica inovadora para promover a restauração dos corais, o projeto Corais de Maré também focou na capacitação da comunidade de Ilha de Maré. Dez jovens da região participaram do curso de agentes ambientais e passaram a multiplicar os conhecimentos adquiridos, realizando ações socioambientais em suas comunidades.

Também foram realizadas oficinas de restaurações de corais, com a participação de 17 pescadores. Após o treinamento, eles atuaram na construção das sementeiras, que foram fixadas em áreas submarinas a cinco metros de profundidade. “Unimos a atuação dos mais novos com os mais experientes, um trabalho de cunho ambiental e social, envolvendo todos para um restabelecimento da grande biodiversidade da nossa Baía de Todos-os-Santos”, diz Zé Pescador.

O projeto também visa promover a disseminação de conceitos de economia circular, estimulando atitudes corretas no descarte de resíduos e na relação com o meio ambiente. No primeiro ano da iniciativa, foram realizados mutirões de limpeza na Ilha de Maré. Em uma dessas ações, pescadores, marisqueiras, voluntários e alunos do 4⁰ ano da Escola Municipal de Bananeiras recolheram 254 kg de resíduos. Parte do material foi utilizado pelo artista plástico André Fernandes para produzir uma escultura em formato de um peixe de 2,5 metros, que foi instalada em frente à sede do Instituto de Pesca Artesanal de Ilha de Maré (IPA), chamando atenção da comunidade para o descarte correto de resíduos e a importância da reciclagem.

Nascida às margens da Baía de Todos-os-Santos, há mais de 100 anos, a Wilson Sons mantém, cada vez mais viva, a sua relação com a região. “A Baía é tudo para nós, por isso entendemos que todo o cuidado que nós pudermos ter em mantê-la sempre sustentável ainda será pouco”, acredita Mikhail Novais, gerente de Segurança, Meio Ambiente e Saúde da Wilson Sons.

Segundo ele, a preocupação diz respeito tanto às ações voltadas para o mar quanto para a terra. “Quando pensamos em nossa responsabilidade na região, pensamos tanto nos nossos funcionários, quanto naquilo que podemos fazer pelas pessoas que estão além do nosso espaço”, explica.

No que diz respeito às águas, Mikhail Novais diz que as perspectivas da Wilson Sons são de investir cada vez mais no reaproveitamento de efluentes, no uso das água de chuvas, além de seguir investindo em processos para gastar cada vez menos os recursos naturais.

“Em relação a 2021, a Wilson Sons aumentou em 24% o aproveitamento dos resíduos através de iniciativas como o ‘Aterro Zero’, do Tecon Salvador”, ressalta Novais. O programa tem como objetivo optar por tecnologias como o coprocessamento e compostagem para evitar que os resíduos sejam destinados para aterros. Desde setembro de 2022, todos os resíduos gerados pelas operações no Tecon Salvador têm destinação adequada e nada vai parar em aterro.

Além disso, completa, Wilson Sons patrocina duas “casas contêineres” no entorno do Tecon Salvador, no Pilar e na Ribeira. O programa já recolheu mais de 2 toneladas de material reciclado. Mais de 19 mil famílias já aderiram à iniciativa. “Com o material arrecadado, o projeto gera uma economia de 109.364.621 litros de água e equivale a proteção de 19.492 árvores salvas”, destaca. São 5.127.725 kg de CO2 a menos na atmosfera; economia de 5.258.786 kWh de energia e 274.286.800 litros de água não contaminada.

Responsabilidade

O vice-almirante Antonio Carlos Cambra, comandante do 2º Distrito Naval, a importância da BTS para o Brasil. Para ele, a importância da “Kirimurê” (Grande Mar Interior), como era chamada pelos Tupinambás, vai além do seu tamanho. “No campo do poder marítimo, fundamental para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil e da Bahia, cabe ressaltar as atividades marítimas, hidroviárias, aquaviárias, portuárias, científicas, náuticas e de pesca, cada vez mais pujantes e com novas perspectivas para a BTS”, destaca Cambra.

Segundo ele, a Marinha tem investido ininterruptamente na fiscalização do tráfego aquaviário e na prevenção da poluição hídrica, além de coibir ilícitos transnacionais, sempre trabalhando em parceria com outros órgãos interessados na preservação da área. O Comandante Cambra destaca ações da própria Marinha, com eventos e outras iniciativas para conscientizar sobre o potencial da Economia do Mar, além de ações de outras instituições, como o Sistema S da Indústria, que recentemente fez o lançamento do Senai Cimatec-Mar.

“Estamos fomentando a mentalidade marítima, valorizando nossa Amazônia Azul, identificando e conhecendo cada vez mais nosso litoral e águas interiores e isso tudo é de interesse da Marinha do Brasil, já que a instituição é um partícipe importante nessa engrenagem”, destaca.

Por Donaldson Gomes, do Correio | Fotos: Arquivo CORREIO e Divulgação

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