30 Mar 2024
Aprovado em 1º lugar no vestibular de Música: Conheça trajetória de Tom Zé na Ufba
Clique aqui e participe do canal do Alô Alô Bahia no WhatsApp
Para alcançar o feito, se dedicou muito, lembra que ficava estudando e ensaiando nos corredores da instituição. "Ficava grudado na parte em que se reuniam os grandes nomes e um dia perguntei a eles como eu fazia uma certa harmonia para evitar a oitava paralela. Aí eles riram, disseram que eu só ia aprender aquilo mais na frente, que eu não tinha capacidade de saber naquele momento. Eu sei que depois eu aprendi e descobri que eles não me ensinaram porque não sabiam nada daquilo", conta, rindo.
Durante o curso, sem grana para se bancar em Salvador, decidiu largar tudo e voltar para a cidade natal para trabalhar na loja do pai. Ernst Widmer, um suíço que na época era diretor da instituição, lhe arrumou então uma bolsa-auxílio. “Com ela eu pagava a pensão, o café da manhã e o cigarro que eu fumava naquele tempo”, compartilha, bem-humorado.
Depois de formado, foi professor de Contraponto e Harmonia na própria Emus, até a chegada de uma polêmica, sobre a qual ele fala, mas se esquiva de detalhes. “Um dia, nesses contratempos que existem de um fulano ser influente e querer colocar sicrano num lugar, saiu uma notícia de que eu chegava na sala de aula vestindo a calça e abotoando a camisa. Eu cheguei para Widmer e disse que estava entregando minhas contas, então fiquei sem trabalho”, relata.
“Me bati com Caetano [Veloso] e contei que estava enrolado. Ele me disse: ‘Lá em São Paulo você pode até se enrolar também, mas vai ter oportunidades de desenrolar’”, completa. Tom Zé pegou o dinheiro que tinha em mãos e embarcou com Caetano rumo à selva de pedras para, junto com Gil, Gal, Bethânia e outros nomes, fazer nascer o movimento tropicalista.
A criação polêmica
A Escola de Música da Ufba foi criada em 1954 como a primeira escola de música de nível superior do país. Movimentando o cenário cultural brasileiro e conquistando prestígio internacional, se tornou a mais badalada dos anos 1960. Foi por esse cenário de bastidores de grandes espetáculos musicais que passaram gênios como os suíços Walter Smetak e Ernst Widmer, e ainda o alemão Horst Schwebel e o italiano Piero Bastianelli. Eles saíram da Europa a pedido de um homem que, dividindo opiniões, marcou a história da Bahia: Edgar Santos. Primeiro reitor da história da Ufba, foi dele a iniciativa de criar a Emus.
“O reitor disse: ‘Koellreutter, você vai fazer a escola de música que você quiser’. O resultado foi algo muito sofisticado, um verdadeiro mundo de luxo do ponto de vista cultural; um centro de cultura do Brasil”, conta o músico Tom Zé, de 87 anos, que foi aluno da Emus. O sobrenome complicado citado é de Hans Joachim, um compositor alemão que veio para o Brasil exilado durante a Segunda Guerra Mundial por ter casado com uma judia e sido denunciado à Gestapo. Ele se tornou o primeiro diretor da Escola.
O “mundo de luxo”, somado à fundação das escolas de dança e de teatro, desagradou uma parte dos estudantes, principalmente os das engenharias, como conta Tom Zé: “Faziam passeatas na porta da reitoria”. O antropólogo e historiador Antônio Risério, no documentário “A Última Vanguarda” (2022), complementa: “Tinha um movimento preconceituoso de ‘abaixo às bichas do reitor’, se referindo ao povo de dança, de música e de teatro, que era visto como afeminado”.
* Publicado por N.R. Texto por Carolina Cerqueira, do Jornal Correio*. Fotos: Arquivo Pessoal.
Leia mais notícias na aba Notas. Acompanhe o Alô Alô Bahia no TikTok. Siga o Alô Alô Bahia no Google News e receba alertas de seus assuntos favoritos. Siga o Insta @sitealoalobahia, o X (antigo Twitter) @AloAlo_Bahia e o Threads @sitealoalobahia.