Aos 92 anos, idosa de Salvador escreve livro à mão para netos e viraliza com história emocionante

“Plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro: três coisas que toda pessoa deve fazer durante a vida”, já dizia o poeta cubano José Martí. A soteropolitana Zuleide Dória talvez nunca tenha plantado uma árvore, mas teve cinco filhos e, agora, aos 92 anos, não só está escrevendo o seu primeiro livro como também viralizando nas redes sociais com uma história emocionante que divide com os netos. 

São 57 mil curtidas, 3 mil compartilhamentos e 630 comentários no Twitter que já fazem Dona Zuleide se sentir famosa. Tudo começou na internet mesmo, mas em uma rede social vizinha. A neta Victória, de 17 anos, se deparou no TikTok com um vídeo de uma menina bastante emocionada tentando ler um livro que sua avó tinha escrito. Trata-se do “Tesouros de Família”, que entre diversas versões tem a “Vó, me conta a sua história?”. 

As páginas repletas de perguntas compõem um presente feito para ser devolvido. Isso mesmo. Quem recebe, escreve e devolve para que quem presenteou possa ler e guardar. Victória ficou encantada e, de imediato, compartilhou o vídeo com o irmão, Rafael, de 23 anos, que também achou o máximo. Com a proximidade do Dia dos Avós, eles tinham o presente perfeito para Dona Zuleide. 
 
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Victória estava empolgada, já que a avó, que era professora, sempre gostou de ler e escrever e vivia dizendo que um dia seria autora de um livro. Mas, para surpresa de todos, Dona Zuleide não gostou do presente. E nem fez questão de esconder. 

“Logo quando ela recebeu, não gostou muito. Ficou preocupada quando viu aquele monte de páginas, achou que ia dar muito trabalho escrever e que não ia dar tempo porque ela já estava velha. Ultimamente, ela tem ficado desmotivada de fazer as coisas que sempre gostou de fazer porque vem precisando de auxílio em tarefas simples do dia a dia. A escrita, que ela sempre gostou, é uma dessas coisas”, conta a neta Vanessa, de 26 anos, que é psicóloga e compartilhou a história na internet. 

Vanessa é vizinha da avó e, como as duas estão sempre juntas, ela decidiu investir na tentativa de fazer Dona Zuleide se interessar pelo livro. “Eu fui explicando a proposta, li algumas perguntas do livro para ela e ela foi vendo que sabia responder e foi se interessando. Comecei orientando, guiando, e ela ia escrevendo conforme eu ia lendo. Passou um tempinho, eu me distraí e, quando vi, ela já estava escrevendo sozinha, virando as páginas, dona do mundo”, lembra Vanessa. 
 
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São perguntas como “O que você gostava de fazer na infância?”, “O que ainda gostaria de aprender?”, “Mudaria alguma coisa em si mesmo?”, “Como é a experiência de ser avó?”. “A gente percebeu ela muito contente. Era lindo ver ela parando para refletir, pensando na resposta que ia escrever, imersa nos pensamentos e nas histórias”, conta a neta psicóloga. 

Por enquanto, Dona Zuleide já completou seis páginas e se mostra empolgada para continuar a escrever. “Eu me senti muito bem escrevendo, senti alegria, vontade de fazer. Gostei da experiência. Lembrei da minha infância, da minha época de juventude. Eu fui criada no meio de pessoas que gostavam muito de ler, escrever e conversar. E acho que eu sou assim também”, diz. 
 
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Quando questionada sobre quais experiências já colocou no papel, Dona Zuleide faz questão de falar da juventude e do marido. “Uma história legal que eu escrevi é a de que eu encontrei uma pessoa que acho que Deus mandou para mim, que foi meu marido. Me encontrei com ele, me casei, fui feliz, tive meus cinco filhos”, compartilha. 

Ouça o aúdio de Dona Zuleide:
 
Para a neta e psicóloga, a experiência tem sido bastante rica e foi justamente para servir de exemplo que ela resolveu dividir a história nas redes sociais, mesmo sem esperar tamanha repercussão. 

“Eu insisti justamente porque o livro vem para contribuir com essa parte da memória, recordar a própria história e para ela se apropriar de si. Na velhice, é comum os idosos se desconectarem do que gostam, dos interesses, dos sonhos. Eles vão se distanciando da própria vida, principalmente se não recebem estímulos e acolhimento da rede de apoio”, diz Vanessa. “Esse livro vai ser como uma autobiografia da minha avó, que vai ficar para os filhos e para os netos, como uma lembrança muito bonita”, finaliza. 


Fotos: Arquivo Pessoal

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