9 Oct 2023
'A gente vai ter que conviver com esse engano pra sempre', diz esposa de médico baiano morto no RJ
O médico foi morto a tiros em um quiosque na Barra da Tijuca, em frente ao hotel onde ocorreu congresso. A hipótese mais provável é que ele tenha sido morto por engano, confundido com um outro homem, que se parecia com ele e morava na mesma região.
"Não dá para rebobinar. Não volta. Não dá para apagar, né? E aí gente vai ter que conviver com esse engano, com essa bala que foi direcionada errada, pra sempre", lamenta Verônica, que conheceu cada versão do marido em cinco anos de relação.
"Terei que me resinificar porque tenho uma filha 3 anos que fica perguntando pelo “papai dela”. Ela não sabe que o pai está morto e eu não sei como contarei isso para ela. O mais velho, meu enteado, de 11 anos, sabe. Ele estava no enterro conosco. Estou tentando contar para ela (minha filha) de uma maneira que entenda. Ela olha a foto do pai e pede para vê-lo de verdade. Ou seja, ela queria estar com ele do lado e não vendo por foto", disse ao jornal Extra.
Ao Fantástico, ela mostrou a filha do casal e contou que Perseu era um homem admirável: além de marido dedicado, pai de dois filhos, sempre se preocupava com a família. O carinho era recíproco, e se refletia nos apelidos que ela o chamava: "Meu amor, vida, mozão, meu gordinho, meu bolotinha".
Verônica diz que o marido mostrou para ela fotos da banheira no hotel e no quiosque. "Ele tava feliz que ele tava encontrando os amigos que ele conheceu na residência, na especialidade", conta a esposa. Na última terça-feira (3), dia do seu aniversário, operou um paciente. A equipe registrou o fim do trabalho que deu certo, e ele voltou pra casa para comemorar os 33 anos com a família.
No dia seguinte, pegou o avião rumo ao RJ, e encontrou os amigos de profissão que também tinham ido ao congresso. No grupo, estava Diego Ralf de Souza Bomfim, 35, irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP); e Marcos de Andrade Corsato, 62, que morreram na hora. O médico Daniel Sonnewend Proença, 32, está internado, em um hospital na Zona Oeste do Rio. Seu estado é considerado estável.
A trajetória do médico baiano
Após a formatura em medicina, Perseu fez especialização no Hospital das Clínicas de São Paulo — uma das maiores referências em ortopedia da América Latina.
O médico não quis ficar na capital paulista. Preferiu voltar para cidade onde passou a infância e toda a adolescência: Ipiaú, no interior da Bahia. Na cidade vivem menos de 50 mil pessoas. Ele sabia da sua importância num lugar como esse e se dedicou a cuidar da população local.
“Ele preferiu retornar e continuar o legado que meu pai deixou”, conta a irmã ao Fantástico. Como morava em Jequié, pegava mais de 50 quilômetros de estrada várias vezes na semana até Ipiaú para trabalhar em um hospital estadual, também em uma clínica particular ortopédica — que é da família — e em outra ao lado. Em Jequié, também dava plantão no hospital público e em uma clínica particular.
“Ele era um médico humano. Ele puxava a orelha da gente se a gente não fosse na consulta: ‘Por que não veio? O que tá acontecendo? Você tá bem?’”, relata a paciente Leilma de Oliveira.
Os moradores da cidade se despediram no sábado (7) do médico baiano. O velório contou com um cortejo até o Cemitério Jardim da Saudade. O corpo do médico foi velado no Salão da Maçonaria e contou com a participação de uma multidão que prestou condolências aos familiares da vítima.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), esteve no local e também prestou condolências aos parentes de Perseu.
O comércio local fechou as portas para se despedir do médico e também como forma de protesto contra a violência que assola o país.
*Publicado por Naiana Ribeiro, com informações do Fantástico, do Extra e do Metrópoles. Fotos: Reprodução/Redes Sociais.
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