09 Dez 2020

Xangô volta ao comando da Casa Branca: búzios escolheram Mãe Neuza como nova ialorixá

Um jogo de búzios feito pelo Pai Air José do Terreiro Pilão de Prata, nesta terça-feira (8), no barracão do Ilê Axé Iyá Nassô Oká, mais conhecido como Casa Branca do Engenho Velho, decidiu o destino do terreiro de nação Ketu mais antigo do Brasil. Sobre uma esteira no chão, os búzios apontaram a decisão dos orixás: Mãe Neuza de Xangô Aganju é a nova ialorixá da casa. As informações são do jornal Correio*.

O retorno de Xangô à regência do axé tem as bênçãos de Oxum, de quem a antecessora de Mãe Neuza, Mãe Tatá Oxum Tomilá – que faleceu em dezembro do ano passado – era filha. Quis a orixá que a nova líder fosse escolhida justo no dia de sua celebração. 

“Há muitos anos que não tem alguém de Xangô. Oxum já dirigiu duas ou três vezes, mas Xangô, que iniciou o axé, ficou lá pra trás. Então, Xangô quis tomar a frente para poder renovar”, disse Pai Air José, bisneto de Bangboshê Obitikô, um dos fundadores da casa. 

Foi Pai Air José o responsável pelas obrigações com a morte de Mãe Tatá. Segundo ele, não foi uma surpresa muito grande a escolha da nova ialorixá. “São renovações”, disse, para em seguida desejar um caminho de paz à mãe de santo. “Ela vai dar seu nome e todos os mais velhos, estamos aqui para acompanhar. Porque essa foi a definição do orixá. Peço a casa, o axé, que tenha paz e tranquilidade”, falou. 

Mãe Neuza, batizada como Neuza da Conceição Cruz, tem 65 anos, 41 deles dedicados à religião. Trabalhou como caixa e fiscal de caixa até se aposentar. Tem uma filha e uma netinha. Ela chegou ao terreiro, onde foi iniciada por Mãe Marieta de Oxum, através do pai, que era axogum do lugar. Ele, que tinha sido iniciado pela própria mãe, criou uma irmandade com os irmãos de santo do Ilê Axé Iyá Nassô Oká e ficou por lá. 

Durante a escolha, ela não escondeu a emoção e tão pouco conseguiu segurar as lágrimas. “Eu nem sei explicar a emoção, nem o que estou sentindo”, contou. “Ainda estou sem entender porque o orixá me escolheu. É uma coisa inexplicável, só peço sabedoria ao orixá, que eu possa ter tranquilidade”, acrescentou. 

Primeira do Brasil
O terreiro Casa Branca do Engenho Velho, Sociedade São Jorge do Engenho Velho ou Ilê Axé Iyá Nassô Oká é considerado a primeira casa de candomblé aberta de Salvador. Constituído de uma área aproximada de 6.800 m², com as edificações, árvores e principais objetos sagrados, é o primeiro Monumento Negro considerado Patrimônio Histórico do Brasil desde o dia 31 de maio de 1984.

A comunidade foi fundada em 1830 por três negras africanas, Adetá ou Iyá Detá, Iyá Calá e Iyá Nassô, e pelos babalaôs Babá Assiká e Bangboshê ObitikôLeia a reportagem completa no Correio*.

Foto: Dadá Jaques/Jornal Correio*. Siga a gente no Instagram @sitealoalobahia e no Twitter @aloalo_bahia.