14 Mai 2021

Para driblar a fome na pandemia, faxineira baiana passa a noite diante de central de regulação e agenda procedimentos

“Boto um lençol no chão e durmo na rua mesmo”


 Maria das Graças da Silva tem 53 anos, é baiana, mora no bairro de Areia Branca, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, com quatro dos seus seis filhos. Sustenta a casa sozinha há 18 anos, desde que se separou do marido. Na pandemia, a situação se agravou. Maria, que era diarista, perdeu alguns trabalhos, e os filhos estavam desempregados.

Os R$ 600 do auxílio emergencial ajudaram a amenizar a crise no início mas, este ano, com a redução da quantia para R$ 375, ficou difícil se manter e ela passou a conciliar as faxinas que aparecem – e se sujeitar a receber R$ 62 por diária – com o bico de agendar consultas e exames médicos para pessoas que não querem pegar fila ou se expor ao coronavírus.  Pelo menos uma vez por semana, Maria passa a noite em centros de regulação ou postos de saúde para realizar as marcações.

A história de luta da baiana foi destaque em uma reportagem da revista Piauí, para qual relatou sua história.  “Eu chego na fila por volta de 21 horas, boto um lençol no chão e durmo na rua mesmo. Fica cheio de gente na porta, não tem só eu. Eu e outras pessoas ficamos lá toda a madrugada para conseguir uma ficha e agendar o exame. De manhã, por volta de 6 horas, vou embora”, conta Maria. Muitas vezes todo esse trabalho é perdido e ela volta nos outros dias e passa outras madrugadas na fila da regulação até conseguir marcar o exame. Cada “cliente” paga de R$ 20 a R$ 30. “É pouco? É! Mas já é um dinheiro de um pão para meus meninos, de um transporte. Querendo ou não é o que tem, e eu preciso trabalhar! A fome não espera”.

Maria sabe que essa função, além de extremamente cansativa, é arriscada em tempos de pandemia. “Sei que me exponho ao coronavírus, mas botei na mão de Deus. Peço para ele me livrar. Se eu pegar coronavírus, nem sei o que vai ser de mim. Estou acima do peso e tenho pressão alta. Aliás, eu acho que já peguei, mas agora pode pegar duas vezes e isso me preocupa. Eu rezo, boto a máscara e vou trabalhar”.

A reportagem na íntegra pode ser lida aqui: https://piaui.folha.uol.com.br/por-25-reais-fico-na-fila-e-marco-o-exame-que-precisar/
 
Foto: Intervenção de Paula Cardoso sobre foto de acervo pessoal. Siga o insta @sitealoalobahia.