04 Jan 2021
Editora é desligada da Harper's Bazaar após comentário gordofóbico em foto de Kevin David na Bahia
A Harper's Bazaar Brasil, revista de moda mais antiga em atividade no mundo, desligou nesta segunda-feira (4) a editora Filipa Bleck após ela publicar um comentário gordofóbico e racista no Instagram que deu o que falar por ter gerado constrangimento para muita gente.O comentário foi feito em uma imagem publicada no último dia 26 por Kevin David, co-fundador e diretor executivo da agência MOOC (Movimento Observador Criativo), que estava em Salvador. A ex-editora de moda 'aconselhou' o empresário a “cuidar dessa barriguinha. Tá muito novo para ter”.
Mesmo constrangido com o comentário gordofóbico e racista, David convidou Filipa Bleck para uma conversa privada, mas a editora reforçou o comentário. O diretor do Movimento Observador Criativo publicou a conversa denunciando a gordofobia por parte de Bleck.
"E o que uma situação dessa quer nos dizer em um momento como esse? Que falta muito pra moda e a branquitude entenderem o que a diversidade de fato representa. Pessoas como essa querem reproduzir modelos antigos, de padrão e homogeneidade, quando tantas coisas relevantes têm sido discutidas", disse David.
A princípio, a Harper’s Bazaar se manifestou pelas redes sociais, mas não amenizou a situação. A postura da revista gerou ainda mais polêmica não apenas na web. Mas, diante de tanta pressão, nesta segunda-feira a Harper’s Bazaar anunciou que Filipa Bleck foi desligada da empresa.
Em comunicado divulgado nesta tarde, a publicação retratou-se pelo comentário da ex-colaboradora e ainda pediu desculpas a Kevin. "Reconhecemos que a dor provocada na vítima do insulto e da violência deve ser respeitada e acolhida - que não fizemos inicialmente, mas que fazemos gora. Entendemos que o comentário de Filipa é uma expressão de gordofobia que regula, controla e estigmatiza corpos, promovendo o body shaming", diz a nota.
A Harper's Bazaar disse que a moda contribui para reforçar padrões e estereótipos e que, também por isso, está empenhada em mudar esse cenário: "O mundo dos editoriais de moda é especialmente responsável pelos padrões de corpos impostos e assumimos ainda mais o compromisso com a construção de outra cultura, em que a multiplicidade dos corpos e das formas de vida possam ser abraçadas".
Além disso, a revista reconheceu o teor racista do comentário feito por Filipa, visto que os corpos dos homens negros, além de hipersexualizados, sofrem com imensas pressões estéticas impostas pela branquitude. "Há uma interseccionalidade entre body shaming e racismo e isso aprendemos agora", admitem na publicação.
No comunicado desta tarde, a Harper's Bazaar afirma ainda que sabe que expressar o pesar e pedir desculpas não são atitudes suficientes "É necessário que esta situação de dor possa produzir modificaações para a vida de muitos que sofrem com os estigmas e preconceitos de quaisquer ordem. Neste sentido, decidimos contratar a consultoria da Alexandra Loras [especialista em mudança organizacional] para compor nossa equipe como Sensitivity Reader da Harper's Bazaar Brasil, para que aprendamos a não errar nessas questões e para que não tornemos a produzir dor em ninguém".
De acordo com a revista, toda equipe será treinada sobre vieses inconscientes e "para agir e transitar por uma nova era de conscientização respeitosa de belezas plurais".
Fotos: Arthur Vahia/Divulgação e Reprodução/Instagram. Siga o Insta @sitealoalobahia.