08 Mar 2024

‘A mulher forte não é a Geni de Chico Buarque, ela não aguenta qualquer coisa’, diz Malu Verçosa Mercury

A jornalista e empresária Malu Verçosa Mercury, 47 anos, nasceu em uma família de mulheres fortes, casou com uma mulher forte e têm três filhas que se inspiram nos exemplos das mães. Embora a sociedade celebre a força feminina, Malu pondera que é preciso repensar a forma como essa mulher é tratada. "Mulher forte sempre sofre, porque todo mundo acha que ela não precisa de nada. A sociedade precisa começar a observar e entender que a mulher forte não é a Geni de Chico Buarque, ela não aguenta qualquer coisa. Ser forte é também se manter no universo feminino do cuidado, de se permitir ser cuidada. Uso a terapia pra conseguir trabalhar isso", disse a jornalista, enquanto se deslocava em Brasília, na última quinta-feira (7), ao lado de Daniela Mercury.
 
A agenda do dia incluiu visita ao presidente Lula e a primeira-dama Janja Lula da Silva. "Não tínhamos vindo no Palácio desde a eleição dele e aproveitamos e fomos ao STF (Supremo Tribunal Federal) para a exposição Mulheres do Brasil, do Ministro Luís Barroso. É nesses ambientes que a gente acaba lutando pela população", ressalta. Hoje, Daniela faz show na Conferência Nacional de Cultura. De lá, voltam para Salvador, depois de uma maratona de viagens pós Carnaval. Além do amor que as une, se tem algo forte que faz parte do dia a dia das duas, é a luta por direitos. Seja por direitos humanos, direitos da comunidade LBGTBQIA+, direito dos excluídos de um modo geral.

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"Costumo estar sempre do lado bom da força, eu e Daniela somos um casal que temos por afinidade a luta por direitos humanos, que é algo já fazia enquanto jornalista. Porque jornalista, apesar de não ter partido, de não escolher um lado, está ali para denunciar o que está errado. E a gente tem essa afinidade como casal", conta. Nas viagens que fazem pelo país, volta e meia recebem depoimentos de pessoas que tiveram coragem de sair do armário após verem elas se assumirem enquanto casal.
 
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O casamento oficial, por exemplo, era uma formalidade que não era sonhada por nenhuma das duas, mas fizeram questão de oficializar, como um ato político. "A gente casou oficialmente em 2013, não porque achávamos que era importante como casal, mas porque a gente sabia que era importante politicamente para essa luta, para a sociedade como um todo. Estar naquele papel de mostrar que, sim, é possível. Constituímos nossa família, as crianças têm nossos sobrenomes, essa consistência jurídica oficial é importantíssima também. É por isso que a gente luta". Elas estiveram em Brasília, em 2018, para a criminalização da homofobia no STF, antes participaram das prévias, visitando ministros. Mais recentemente, também entraram na defesa do Formulário Rogéria, de ocorrência de emergências para proteção e enfrentamento da violência contra a população LGBTQIA+.
 
Malu é campeã da Igualdade na Organização das Nações Unidas (ONU) e, ao lado de Daniela, é embaixadora no combate a Homofobia em todo mundo. Apesar do título, a jornalista diz que essa sempre foi uma luta delas do dia a dia. "Sempre lutamos por direitos iguais e respeito às diferenças. A gente faz essa luta todos os dias das nossas vidas, em todos os lugares. Só de existir, a gente já está lutando por isso", defende Malu. Diante dessa militância, quando pensa nas mulheres que a inspira, Malu se volta sempre para aquelas que também estão na trincheira de luta pelos direitos, pela igualdade, pelo respeito. 
 
Na vida pública, admira Raquel Dodge, a primeira mulher a ocupar o posto de Procuradora Geral da República (PGR). Na arte, se rende a esposa. "Falar de Daniela é redundância, é uma das artistas mais importantes da Música Popular Brasileira, da música pop brasileira, em termos de posicionamento político, artístico. Ela prioriza a arte acima de tudo, não tem nada que mova ela mais fortemente do que a arte, tudo que faz é pensando na arte. Elisa Lucinda eu acho uma força da natureza, como atriz, como militante contra o racismo. Outra mulher incrível é Thaís Dumet, da OIT e da ONU, em questão de direitos humanos, está sempre envolvida em questão de luta na ONU, transforma muitas vidas. Pra mim, mulheres admiráveis são aquelas transformam, que fazem acontecer".
 
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Malu olha para a própria família, majoritariamente feminina, e também encontra muita inspiração. "Minha mãe é uma mulher forte, minhas irmãs também. Sou caçula de quatro irmãos, a raspa do tacho. Elas são nove e oito anos mais velhas, então foram também um pouco minha mãe quando criança. Minha família é feita de mulheres fortes, filhas fortes, sobrinhas fortes", lista Malu, que tem três filhas com Daniela: Márcia, 25, Alice, 22, e Bela, 14. Na casa em que moram, em Salvador, os únicos machos são dois gatos. Ainda assim, quando chegaram, acreditavam que tratava-se de duas fêmeas.
 
Malu diz que as filhas tiveram o exemplo de duas mulheres fortes, altivas, que sabe o que querem, por isso, as três só fazem o que querem. "Essa força feminina é muito presente", avalia. Daniela é mãe ainda de Giovana e Gabriel. Apesar da família grande, teve um momento que Malu e Daniela já quiseram vê-la ainda maior. "Queria ter filho antes da gente casar, já tinha começado o processo de congelamento de óvulos. Seguimos nesse processo depois que casamos. Mesmo depois de já ter adotado as meninas, cheguei a fazer algumas tentativas, mas não deu certo. Tínhamos a expectativa de ter mais um bebê na família e quase chegamos a adotar gêmeos (dois meninos), com 2 meses", conta a empresária.
 
Em meio às tentativas, veio o fantasma da Zika, onde as crianças de mães que contraíram a doença nasciam com microcefalia, e elas repensaram a decisão. "Fiz inseminação artificial em 2015, 2016, aí veio a Zika e nós suspendemos as tentativas. Até Ivete dizia pra Daniela: 'não desistam, Malu é mais nova do que eu, dá pra fazer'. Mas, na pandemia, refletimos bastante, mergulhamos bastante na gente e começamos a ver que o bebê teria uma idade muito distante da mais nova, que tínhamos um equilíbrio emocional na casa, com todas as questões que crianças e adolescentes trazem, e não vimos mais sentido de ter mais um bebê. Percebi que agora quero ser mais avó do que mãe", diz Malu, que virou avó com a chegada de Mel, filha de Giovana, em 2018.
 
A empresária conta que, como mãe, é do tipo que enche o saco, que controla horário, o tempo que ficam no celular, as notas da escola da caçula e da faculdade da filha do meio. "Pode mexer comigo, mas não mexa com minhas filhas e com Daniela", admite, revelando seu lado leoa. Márcia, a filha mais velha é formada em Direito, Alice, a do meio, faz Psicologia, e Bela, ainda está no ensino fundamental e é apaixonada por balé.
 
Além do casamento e da maternidade, Malu e Daniela dividem também o trabalho. Há 11 anos, a jornalista assumiu o papel de empresária da cantora. "A  gente discute as coisas, ela me respeita muito e eu respeito muito ela. Daniela é muito empresária, eu aprendo muito com ela. Ela conhece muito da carreira dela, o que quer fazer, onde quer colocar a imagem dela, a marca dela", explica.
 
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Embora nunca tivesse empresariado um artista antes dessa experiência, a jornalista explica que a comunicação é a base da carreira da cantora e esse trabalho ela já estava acostumada a fazer há 20 anos. "Já fazia comunicação, já fazia gestão de pessoas. O que faço não é muito diferente dentro da empresa, mas englobo mais coisas. Acompanho a administração, o jurídico e o financeiro. Acabo coordenando tudo, sou um pouco centralizadora. Prefiro saber tudo que está acontecendo pra resolver as coisas e vou delegando. Tenho um padrão de eficiência e eu cobro muito das pessoas", avalia.
 
Agora, por exemplo, elas estavam nos Estados Unidos, participando do Festival Montreux, em Miami. De lá, deveriam voltar para a capital baiana, mas emendaram com São Paulo e Brasília. "Estamos há três semanas fora de Salvador. Daniela foi a única artista brasileira que participou do festival, além do show dela, participou da Jamm do festival, onde cantou com vários músicos. É um festival que ela tem muito carinho, inspirou ela na carreira. Isso custou nossas férias pós Carnaval, mas vamos tentar tirar pelo menos 15 dias em abril. Quando termina o Carnaval eu me controlo um pouco para deixar a equipe descansar, mas já começo a pensar no Carnaval seguinte e a carreira de Daniela tem sempre uma turnê em junho e planejar turnê é sempre cansativo, requer um trabalho minucioso. A vida de Daniela não para e eu acabo não parando também”.

Fotos: Divulgação. 

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