O tempo, esse canalha

No high-society, a expressão “O tempo, esse canalha” tornou-se uma constante, proferida em mesas e em casas de gente bem. Muitos falam, poucos sabem realmente de onde e quando ela surgiu. Por isso, benevolentes que somos, aqui, na íntegra, transcrevemos como a história se deu:

 Luiz Viana Filho, político e intelectual, membro das academias de letras do Brasil e de Portugal, considerado o príncipe dos biógrafos em língua portuguesa, então já consagrado pela biografia de Rui Barbosa e pelo O Negro na Bahia (clássico da etnografia brasileira), após publicar Rui e Nabuco, resolveu escrever a biografia monumental de Joaquim Nabuco, o estadista do Brasil.

Sistemático, costumava entrevistar amigos, parentes e conhecidos de seus biografados.Transcorria o final dos anos 1940. A busca o levou a majestosa casa de Botafogo, no Rio, onde vivia Carolina Nabuco, escritora, intelectual e filha de Joaquim. Carolina era a autora de A Sucessora, livro plagiado por Daphne Du Murrier, em Rebecca (que adaptado para o cinema seria vencedor de vários Oscares).

 Pois bem, Luiz Vianna chegou ao palacete e do vestíbulo avistou ao alto, num passadiço, a pequena, bela e imponente Sra. Carolina; tinha entre 55 e 60 anos, mas era ainda uma mulher especial. As subidas das escadas cruzadas que levavam ao piso superior eram decoradas com inúmeros quadros de família, entre os quais o retrato de uma jovem belíssima que o escritor parou para admirar. Mirava o quadro e mirava a bela senhora, e não teve grandes dificuldades de identificar o brilho de outrora na, agora, mulher madura. Espirituosa, mas firme e com um travo de amargor, Carolina desferiu o brilhante adágio que o jovem escritor anotou, para sempre: "o tempo, esse canalha".

Foto: Reprodução. 

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