17 Sep 2011
Digressões semanais

Coco, minha querida amiga,
Tento conter a saudade e pensar menos na sua ausência. Não tenha penas quanto a mim, sofro do mal da intemperança e se tivesse o mínimo juízo sairia agora de Londres e correria a seu encontro.
Juízo, aliás, é coisa que falta a muitos. Homens e mulheres cada vez mais distantes e mais afastados de si mesmos.
Fui a uma festa maravilhosa. Uma ilha paradisíaca. Caviar iraniano e Dom Pérignon em cornucópias. A dama loira, linda e no auge de seus 40 anos. Parecia 30. Quem estava lá? Quem não estava lá, seria a pergunta melhor. Animada a festa. Boa música e boas conversas. Lá pras tantas, pista bombada, uma roda se formou ao largo da animação. A dama se achegou ao grupo também. Vestido francês de impávido branco. Couture; nunca resort. Falava-se da vida, de amores e das mulheres. Homens, por assim dizer, dominavam a conversação. Brisa marinha, bons perfumes; de branco quase todos os convencionados. Um homem de cerca de 45 ou 50 anos, loiro. Sua mulher, linda, jovem (por demasiado jovem), a seus pés, bem a propósito; longos cabelos dourados, belas pernas à mostra e belo anel de brilhantes. Sempre silente. Sorria. Transportada àquele mundo sofisticado e dele inteiramente alheia. Alienígena e bela. O homem, por assim dizer, do nada fulminou sua divisa: deviam morrer as mulheres aos 25 anos, pois é quando sua beleza morre. Deixam de ser naturais, afirmou impassível. Sua bela mulher, ela mesma, faria 25 no ano vindouro. Não seria morta, por misericórdia; mas seria abandonada. Seria sim! E quem se importaria. Não era a primeira e, se a fortuna permitisse, não seria a última. O silêncio constrangedor fechou o quadro. Antes que alguém pudesse voltar a respirar, ciente de seu destino infausto e ainda jovem, a moça, qual uma Ifigênia em holocausto, fez escorrer uma única lágrima.
Vertida a lágrima, voltamos todos a respirar, em obsequioso silêncio. A dama, dona da festa, primeira a se refazer, e nunca surpreendida, puxou a pobre supliciada e determinou: venha querida, essa é uma ótima festa; vamos dançar. Logo arranjaremos para você um marido mais jovem, mais doce e mais rico e com menos urgências, capaz de apreciar uma bela mulher que só ensaia desabrochar.
E assim foi...
A dama não mandou jogar o incauto ao mar; para repasto dos peixes. Generosa, que só. Mas fico a imaginar: qual a natureza de tal criatura? Quais insondáveis mistérios aprisionariam aquela alma masculina amargurada e grosseira? O que senão o fetiche reles do dinheiro o teria alçado ao meio de nossa convivência?
Minhas saudades, por tudo isso, só aumentam. Aceite, como sempre, meus beijos mais ardentes, sou seu,
Boy