Meu desabafo: Salvador duplamente em estado de choque...

Salvador, que anda bamba das pernas, ganhou grande matéria, neste domingo, na "TV Folha", do Jornal Folha de São Paulo. A introdução é assim: " Salvador, a terceira maior cidade do Brasil, está engarrafada, suja e violenta. Os números de homicídio superam os de São Paulo, mesmo durante a atual onda de violência na capital paulista. No Pelourinho, o consumo de crack é generalizado. E o atual prefeito João Henrique, do PP, é hoje líder de rejeição entre os gestores das capitais brasileiras com uma taxa de 75%".

Tudo verdade, nós sabemos. Mesmo quando fechamos os olhos, lá no fundo, sabemos sim. A Bahia tornou-se um terreno de interesses escusos, onde uma "minoria" consegue se estabelecer diante de uma elite cafona e sem conhecimento. É preciso ler, saber, conhecer. É preciso sair do ponto de inércia e arregaçar as mangas. Quem aceita certas verdades como verdades absolutas está condenado, mesmo que não saiba, a ignorância da vida moderna.

Assisti a reportagem três vezes. Não discordei de nenhuma vírgula. Achei pertinente e achei necessário para o momento. Só que ainda tenho 25 anos, o que me dá certa ingenuidade de acreditar no novo e no futuro - e assim prefiro que seja.

E ao ver o antropólogo Roberto Albergaria, um senhor inteligente, sendo mordaz em seus comentários fiquei realmente triste. Roberto não economiza palavras, e entre uma frase e outra, ri do que me parece um grande circo. Ele diz: " Toda cultura que nasce ela entra em decadência e morre. E a Bahia também foi um belo sonho...".

Ninguém vive de passado, mas é preciso conhecer os fatos para não repetir os mesmos pecados. O que já foi, já foi. Inclusive o tempo é uma invenção boba. E um homem vivido jogar no ventilador todo esse ceticismo é um atentado contra a nossa inteligência. É desiludir por demais de forma dolorosa todos os sonhos de uma sociedade. A juventude, sobretudo a nova geração produtiva, precisa entender que é possível mudar e evoluir. Os erros e as glórias sempre irão nos levar para o aprendizado - se não for agora, uma hora será.

E a Bahia tem jeito sim. Não pelos governantes, nem pelos pensadores, nem pelos políticos. Mas, pelo povo. Pelo povo que sofreu o que sofreu, que calou o que calou e que deu a volta por cima. Resiliência está aí para todos, inclusive para quem não tem a capacidade de acreditar que o melhor ainda está por chegar.

Roberto ainda completa: " Salvador é uma cidade zumbi. Uma cidade morta viva. E a Bahia é isso: um metrô imóvel". As palavras dele calaram fundo em minha alma, principalmente, por eu ter escolhido viver aqui. Vou dormir desgostoso e, como sempre, acordarei, me arrumarei, e estarei pronto para começar novamente. Afinal, é assim a realidade: uma possibilidade a cada dia.

E, como já disse Nizan Guanaes, " Tudo que fica pronto na vida, foi construído antes, na alma". Sendo assim, acreditem no que quiserem, só não acreditem que não é possível começar e recomeçar quantas vezes for necessário. Salvador precisa de nossa ajuda e terá.

Desculpem o desabafo,

Rafael Freitas.

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