8 May 2013
A parábola da corrupção por Hilde Angel

A síntese da verdade do comportamento humano está no Gênesis, na mais singela das fábulas bíblicas. A história da serpente no Paraíso, que seduz Eva com a maçã e, por conseguinte, Adão. É a Parábola da Corrupção.
Ali está tudo dito. A corrupção é irresistível. Nem Deus pode com ela. Na política, a corrupção é como uma traça, que vai corroendo todo o tecido de um país, cobrindo a extensão de sua geografia, com a paciência de um jabuti, a voracidade de um esfomeado, sem deixar partido sobre partido, ideologia sobre ideologia, discurso sobre discurso, líder sobre líder, herói sobre herói, biografia sobre biografia, estadista sobre estadista.
Insaciável, a corrupção avança sobre todos os poderes de uma Nação, como se seu estômago não tivesse fundo. E não tem.
Jogador, o corrupto profissional, aquele de carteirinha, a cada vez procura superar novos obstáculos no seu ato de corromper e, ao vencê-los, se compraz com o gozo da vitória, num exercício de superação de desafios.
A corrupção não poupa sequer os santos, os justos e as mulheres ditas honestas… até conhecerem a lábia do corruptor.
O corruptor compra a mulher com que se casa, os filhos que gera, os amigos que o cercam, as pessoas que lhe sorriem na rua, o porteiro, o sorveteiro, o sacerdote, o guarda de trânsito, o mundo. O corruptor é antes de tudo um boa praça. Via de regra, um bonachão. Seu perfil é o do vaselina. O daquele que não se estressa, pois sabe que não vale a pena, tudo na vida tem jeito. É uma questão de dinheiro. Ele tem.
O corruptor é pragmático. Se o corrompido perde o posto, a importância, a posição, ato contínuo e sem pestanejar, o corruptor corta-lhe confortos, mordomias, facilidades, jatinhos e até a cesta de Natal. Certa vez, perguntei a um corruptor: “Mas você fez isso com o ex-ministro? E se ele voltar ao poder?”. Resposta incontinente: “Aí, eu volto a dar”. Pronto, outra regra de Anjos* muito bem aplicada pelo corruptor: a mão que afaga é a mesma que apedreja.
O corruptor não admira o impoluto. Despreza. Não perde tempo com ele, pois, à parte todas as qualidades que possa ter, o impoluto não o interessa, já que não tem futuro. Do alto de sua experiência de PhD em Corruptez, ele enxerga o pior dos cenários para os idealistas empedernidos, que acreditam numa regra defasada, totalmente old fashioned,ditada por um evangelho retrô: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
* Mas esta regra não é ditada por Anjos bíblicos, é pelo poeta Augusto dos Anjos.
Por Hilde Angel / Foto: Reprodução