A mostra “Ecos Malês”, inspirada em um dos principais levantes liderados por africanos na história do Brasil, a Revolta dos Malês, ocupa a Casa das Histórias de Salvador a partir desta sexta-feira (1º). A exposição fica em cartaz até maio de 2025 e a visitação pode ser feita de terça-feira a domingo, das 9h às 17h. Os ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) e podem ser adquiridos na bilheteria do espaço e através da plataforma Sympla.
Com curadoria de João Victor Guimarães e co-curadoria de Mirella Ferreira, a exposição reúne 114 obras de 48 artistas e parceria com o coletivo Arquiteturas da Revolta, para pensar e refletir as influências contemporâneas da luta pela liberdade dos africanos escravizados e libertos em Salvador, durante o século XIX. Embora o movimento ocorrido entre os dias 24 e 25 de janeiro de 1835 tenha sido violentamente reprimido, o impacto da Revolta dos Malês foi duradouro, e teve importante contribuição para um crescente movimento abolicionista no Brasil, culminando na promulgação da lei Eusébio de Queirós em 1850, que proibiu o tráfico transatlântico de escravizados, além de deixar marcas significativas na história de Salvador e na luta afro-brasileira por liberdade.
Segundo o curador João Victor Guimarães, o público pode esperar uma exposição encantadora, pensada para dialogar e se aproximar por meio de seus artistas contemporâneos e com obras que vão além do que é visual. “Salvador tem a chance de acessar uma exposição que fala de uma revolta que aconteceu na cidade, feita por negros africanos escravizados e libertos, que não foi vitoriosa diante dos seus anseios, dos seus planos e propostas, mas foi vitoriosa na medida que permanece com os seus fundamentos na nossa sociedade. O eco não é o som original, Salvador não se tornou a República islâmica que os Malês queriam, mas Salvador também é um Eco do que os Malês ansiavam”, pontuaa.
O secretário municipal de Cultura e Turismo, Pedro Tourinho, ressalta a relevância da chegada desta nova exposição. “Queremos que a Casa das Histórias de Salvador seja, sobretudo, a casa das histórias que outrora foram silenciadas mas que hoje devem ser contadas, registradas, celebradas, e por isso nada é mais potente e simbólico do que ter aqui a exposição Ecos Malês, ecoando os 190 anos desse acontecimento na história da nossa cidade e do nosso povo”.
Ambientes expositivos – A exposição reúne uma ampla variedade de obras, incluindo esculturas, pinturas, fotografias, gravuras, macumbas pictóricas, bandeiras, patuás, vídeo performance, entre outras. O acervo está dividido nos núcleos Encontrar, Ruas da Revolta, e Inventar (Liberdade e Defesa).
O primeiro núcleo, Encontrar, reflete o valor do encontro entre os malês para a organização do levante. A exposição destaca a importância do compartilhamento de informações e da construção de redes de apoio entre os participantes da revolta. Entre os trabalhos apresentados neste núcleo, estão obras da artista Helen Salomão, que explora a intersecção entre identidade, afeto e laços familiares, especialmente a partir de sua experiência com o matriarcado na sua família.
O segundo núcleo, Ruas da Revolta, explora os ambientes onde a revolta ocorreu e dentre as obras apresentadas, está um mapa organizado pela equipe de pesquisa a partir do livro Um defeito de Cor e atualizado com algumas informações históricas que não estavam presentes no livro. Este núcleo também apresenta artistas que vão pensar cidades, a exemplo de Rose Afefé, artista de Varzedo, no interior da Bahia, que construiu Terra Afefé, uma “micro cidade” de três hectares na cidade de Ibicoara, na Chapada Diamantina, burlando várias burocracias e convenções financeiras, provocando a reflexão sobre arte, acesso, redistribuição de renda, reforma agrária, urbanismo e revolução.
Já o terceiro núcleo, Inventar (Liberdade e Defesa) aborda a busca dos Malês pela liberdade e o papel da resistência espiritual e religiosa. Este núcleo inclui trabalhos de artistas como o estreante Karamujinho, com fotografia de gravuras feitas com Efun sobre a pele e a artista baiana Jasi Pereira, que, após expor esculturas em outros países, irá expor pela primeira vez um conjunto de gravuras sobre sua experiência de retorno à Salvador e ida a Luanda, em Angola, no ano passado. Inventar conta também com trabalhos do artista carioca Simba e colagens e vídeo performance da baiana Ventura Profana.
A co-curadora Mirella Ferreira acredita que “a exposição Ecos Malês olha para a cidade de Salvador e deseja ser olhada por ela. O espaço expositivo propõe diálogo e troca com as pessoas visitantes, com o intuito de construir pensamentos e novas perspectivas de futuro a partir dos ecos de liberdade”.
Ecos Malês conta ainda com assistência de curadoria de Ana Clara Nascimento, Breno Silva e David Sol; coordenação de produção de Leonardo Góis; e expografia assinada por Gisele de Paula. A pesquisa histórica é de Gabriela Leandro Gaia com auxílio de David Sol.
Artistas divididos por núcleo
Encontrar
Caio Rosa, Gil Scott-Heron, Helen Salomão, Jamile Cazumbá, Luan Gramacho, Luciano Carcará, Pierre Verger, Rafael Ramos, Rona, Voltaire Fraga, Wilson Tibério e Yan Nicolas.
Ruas da Revolta
Ação Cemitério Desaparecido, Diego Crux, Jacopo, Malê Debalê, Mayara Ferrão, Pedro Marighella, Rose Afefé e Ventura Profana.
Inventar (Liberdade e Defesa)
Antônio Pulquério, AZA, Bertô, Caio Rosa, Cipriano, Coletivo Arquiteturas da Revolta, Daniel Jorge, Édson da Luz, Gustavo Moreno, Hall Wildson, Ismael David, Jasi Pereira, João Nascimento, Junaica Barbosa, Karamujinho, Kauam Pereira, Lila Deva, Lucas Cordeiro, Simba e Ventura Profana.