Antonio Cicero, renomado poeta, filósofo e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), faleceu nesta quarta-feira (23) aos 79 anos.
Cicero, que ocupava uma cadeira na ABL desde 2017, lutava contra o Alzheimer nos últimos anos e vinha enfrentando complicações neurológicas relacionadas à doença.
A ABL lamentou a morte do escritor em um post nas redes sociais. Veja:
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O poeta carioca optou por uma morte assistida na Suíça, onde esteve acompanhado de seu marido, Marcelo Pies. Em comunicado a pessoas próximas, Pies relata que o poeta vinha planejando a morte assistida há um tempo e mandando documentos, mas “insistiu muito que ninguém soubesse”. Ele já havia sido diagnosticado com Alzheimer.
Dias antes, Cicero visitou Paris por uns dias para se despedir da cidade que tanto admirava. O imortal da ABL fez questão de ser cremado, e suas cinzas serão trazidas por seu marido ao Brasil, onde desembarca na quinta-feira (24).
Sua última aparição pública no Rio de Janeiro foi em 30 de setembro, quando prestigiou o lançamento do novo livro de Silviano Santiago, numa livraria em Ipanema.
Antonio Cicero deixou uma carta de despedida (leia a íntegra ao final), na qual afirma que não conseguia mais “escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia” e diz aos amigos que, “hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los”, em alusão à doença que o acometeu.
Veja a carta deixada pelo poeta:
“Queridos amigos,
Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia.
O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de
Alzheimer.
Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas
no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.
Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas
pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi.
Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia.
Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu
mais gostava no mundo.
Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha
terrível situação.
A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa
– mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico
até com vergonha de reencontrá-los.
Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que
quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.
Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.
Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!”
Cicero, além de sua contribuição intelectual, foi um nome marcante na cultura brasileira. Com um legado notável, ele também colaborou em sucessos musicais, como as canções “Fullgás” e “Pra Começar”, interpretadas por sua irmã, a cantora Marina Lima.
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Também são de Cicero clássicos como “À francesa”, feita com Cláudio Zoli; “O último romântico”, sucesso realizado junto a Lulu Santos e Sérgio Souza; e “Alma caiada”, gravada por Maria Bethânia em 1976, quando a letra foi censurada pela ditadura militar.