Nesta quinta-feira (26), Gilberto Gil completa 83 anos. O aniversário, no entanto, é só um pretexto para reverenciar uma figura que transcende a música e que ocupa um lugar incontornável na história cultural e política do Brasil.
Cantor, compositor, multi-instrumentista, ex-ministro, membro da Academia Brasileira de Letras, Gil é um artista que se reinventa sem romper com suas raízes. Um mestre que move gerações inteiras sem perder a essência.
Foto: Giovanni Bianco
Baiano, de Salvador, o artista estudou na Universidade Federal da Bahia (Ufba), e foi ali, entre o rádio, o violão e a efervescência da capital baiana nos anos 1960, que começou a desenhar uma trajetória que logo cruzaria as fronteiras do estado, e do país.
Sua formação musical foi marcada pela convivência com o som dos trios elétricos de Dodô e Osmar, o samba de roda do Recôncavo e as canções que vinham de fora: Beatles, Bob Dylan, rock’n’roll e jazz. Essa fusão foi o combustível que acendeu o movimento tropicalista, ao lado de Caetano Veloso, Gal Costa, Tom Zé e Os Mutantes.
Gilberto Gil foi preso e exilado durante a ditadura militar. Viveu em Londres, cantou em português e inglês, gravou discos experimentais e voltou ao Brasil com outra visão de mundo. Não à toa, a partir dos anos 1980, intensificou seu diálogo com temas como meio ambiente, negritude e espiritualidade.
É de Gil a trilha de canções como “Refazenda”, “A Paz”, “Andar com Fé” e “Toda Menina Baiana”, que continuam circulando por rádios, playlists e palcos.
Foto: Arquivo Pessoal
Seu nome, no entanto, não se limitou ao artístico. Em 2003, ao aceitar o convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assumir o Ministério da Cultura, Gil inaugurou uma fase de protagonismo político raro entre músicos brasileiros.
À frente da pasta, promoveu o acesso à cultura como direito básico e defendeu a cultura digital e o software livre como caminhos para democratizar a criação artística.
Foto: Ricardo Stuckert
Na gestão, ele também criou os Pontos de Cultura, que fomentaram iniciativas populares pelo Brasil inteiro, e abriu espaço para debates antes restritos a grupos especializados. Na época, sua presença no governo foi vista como ousada por muitos, mas Gil atravessou os quatro anos do mandato sem perder o respeito nem do meio político, nem do musical.
Em 2022, tomou posse da cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras, ocupada anteriormente por Murilo Melo Filho. A consagração não foi apenas simbólica: foi uma forma de reconhecimento da importância de sua obra para a literatura brasileira, ainda que seus textos sempre tenham vindo em forma de canções.
Foto: Reprodução/Instagram
Gilberto Gil também é o patriarca de uma família musical. Junto há mais de 40 anos a Flora Gil, tem filhos e netos que continuam seu legado artístico, como Preta Gil, José Gil e Flor Gil, com quem, inclusive, vem dividindo os palcos em sua turnê de despedida, batizada de “Tempo Rei”.
A série de shows, que percorre diversas cidades do Brasil e da Europa, é uma retrospectiva de sua trajetória e, ao mesmo tempo, um gesto de passagem, de saber, de palco e de história.
Foto: Pridia
Em meio a tudo isso, Gil ainda encontra tempo para refletir sobre o Brasil contemporâneo. Nas redes sociais, nos palcos ou em entrevistas, sua fala continua lúcida, conciliadora e política.
Mas o que mais chama atenção é como, aos 83 anos, Gil segue sendo exatamente o que sempre foi: uma presença que transforma tudo em volta. Um mestre que dança, sorri, improvisa e compartilha, sem fazer alarde.
Neste aniversário, o Alô Alô Bahia presta sua homenagem a esse artista fundamental. Parceiro do camarote Expresso 2222 e presença constante em momentos especiais da vida de Gil e sua família, o portal teve a honra de contar com o cantor como atração principal da festa de 15 anos do site, um encontro que celebrou os laços de respeito, admiração e afeto que se construíram ao longo dos anos.
Foto: Elias Dantas/Alô Alô Bahia
