Entre o sertão e a diáspora: Roney George apresenta a exposição ‘Assentamentos’ na Casa do Benin

Entre o sertão e a diáspora: Roney George apresenta a exposição ‘Assentamentos’ na Casa do Benin

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Tiago Mascarenhas

Danilo Scaldaferri/Divulgação

Publicado em 20/03/2025 às 18:01 / Leia em 4 minutos

Por trás de cada pincelada, cada textura, cada elemento de “Assentamentos”, nova exposição de Roney George em cartaz na Casa do Benin, há uma história de deslocamento e pertencimento. Mais do que uma mostra, a experiência convida o público a percorrer os caminhos trilhados pelo artista desde a infância no sertão até sua imersão na cultura afro-brasileira, em Salvador.

Entre pinturas e instalações, Roney nos entrega um testemunho visual daquilo que o compõe: sua ancestralidade negra e indígena, sua ligação com o vaqueiro e seu olhar sensível sobre os territórios que o atravessam.

Foto: Danilo Scaldaferri/Divulgação

Foto: Danilo Scaldaferri/Divulgação

Com uma carreira de 40 anos e exposições em países como França, Estados Unidos e África do Sul, Roney apresenta, pela primeira vez, uma série inteiramente inédita. O nome da exposição, “Assentamentos”, carrega camadas de significado. É sobre raízes, mas também sobre movimento. Sobre o que permanece e o que se transforma.

Em conversa com o Alô Alô Bahia, Roney explicou que, apesar de suas referências virem de universos distintos, nunca houve um conflito entre elas. “O que pode ser conflito, caso seja uma coisa de fora, em mim não é, porque já estão amalgamadas, estão juntas, acontecem da mesma maneira, com a mesma potência. Eu, o negro diaspórico; eu, neto de indígena; eu, da cultura do vaqueiro. Essas coisas todas sou eu mesmo. Agora, transmutadas e transformadas a partir das pesquisas da minha própria história, em uma obra concisa, inteira”, contou.

A relação com a própria trajetória também se reflete no título. “Meu primeiro assentamento foi aos 10 anos, quando fui contratado por um escultor da minha cidade, Itapetinga, chamado São Félix, para ser seu assistente. Aos 12, fiz minha primeira exposição. A partir dali, esses territórios se expandiram. Cheguei a Salvador, conheci o Recôncavo, me deparei com minha negritude e tudo isso potencializou meu próprio ser”, disse o artista.

Foto: Danilo Scaldaferri/Divulgação

Foto: Danilo Scaldaferri/Divulgação

Ao caminhar pela exposição, o público se depara com materiais que trazem memórias táteis e afetivas. Couro, terra, texturas ásperas. Tudo evoca uma relação sensorial e emocional. “Espero que as pessoas percebam a honestidade nessa construção de ideias e se sintam provocadas. Ou felizes. Ou inquietas. Mas que algo seja despertado”, afirmou Roney.

A musicalidade também se faz presente, sobretudo nos orikis, cantos sagrados dos orixás, e no aboio dos vaqueiros. “Se a exposição fosse traduzida para outra arte, seria através dessas canções. O aboio conduzindo as boiadas nos deslocamentos, os orikis reverberando a diáspora… As duas formas falam sobre assentamento, sobre o pé no chão”, explicou.

Ao revisitar sua trajetória, Roney também encontrou descobertas inesperadas. “Essa exposição é inédita até para mim. Embora seja tudo de mim, é um corte na forma como apresento meu trabalho. Quem acompanha minha obra perceberá esse corte, mas também verá que tudo continua ali”, refletiu. “‘Assentamentos’ é uma afirmação da minha liberdade enquanto artista”, completou George.

A exposição, sob a curadoria de Danillo Barata, fica em cartaz até 30 de abril, com visitação gratuita de terça a sexta, das 10h às 17h, e aos sábados, das 9h às 16h, na Casa do Benin, no Pelourinho.

Roney George e Danillo Barata, curador da exposição – Foto: Danilo Scaldaferri/Divulgação

Roney George e Danillo Barata, curador da exposição – Foto: Danilo Scaldaferri/Divulgação

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