'Bárbaro é aquele que não admite a diversidade', diz Leandro Karnal em Salvador

“Bárbaro é aquele que exclui o outro, que não admite a diversidade”. A fala do historiador gaúcho Leandro Karnal resume não só o encontro dele com o filósofo francês Gilles Lipovetsky, no Fronteiras Braskem do Pensamento, mas a sociedade atual. Durante o evento que aconteceu na noite desta segunda-feira (17), no Teatro Castro Alves, os dois convidados provocaram a plateia com reflexões sobre cidadania e política.

Claro que o atual e delicado momento sociopolítico do Brasil foi tocado por ambos. Mas foram destacadas, principalmente, as consequências do individualismo cada vez mais forte. No lugar da felicidade proporcionada pela experiência política, lembrou Karnal, a felicidade individual ganhou espaço. “Durante muitos anos a felicidade foi centrada no fato político, no bem-estar da pólis”, mas hoje, continuou, “vivemos a era do esvaziamento do espaço público”.

O quadro gira em torno da felicidade individual mais do que da felicidade política. “Por isso as prateleiras estão cheias de livros de autoajuda: ‘como ter uma vida bem-sucedida, como salvar seu casamento’”, listou, provocando risos na plateia. “O sucesso da autoajuda se deve ao colapso da política como felicidade”, afirmou.

Diante de uma sociedade dividida entre “esquerdopatas ou fascistas”, citou o historiador, “há que se perguntar qual é a condição para restaurar a política como felicidade e bem-estar”. Principalmente quando “uma parte do país teme que a outra parte vença, ‘porque será o fim do país’”, citou Karnal. “Provavelmente ambas as partes estão corretas”, disse com bom humor.

Uma das consequências do individualismo é clara. Enquanto os políticos “estão interessados em seus interesses privados”, concordou Gilles, “os cidadãos colocam a honestidade do político como qualidade primordial antes mesmo do programa”. Durante o evento, o filósofo passeou por temas apresentados também mais cedo, em conversa com a imprensa, e se mostrou atento à realidade brasileira.

“O Brasil é caracterizado, atualmente, pela desconfiança dos cidadãos nos políticos. Antes tínhamos partidos que sintetizavam posições, por mais que naquela época também houvesse corrupção. Hoje, ninguém mais se sente representado com os grandes partidos”, comentou, ao ressaltar que essa desconfiança não é algo notado somente no país. 

Aliás, restaurar a confiança é, para o filósofo, a chave da mudança para um mundo mais justo e democrático. Ele também refletiu sobre educação e defendeu que temos de caminhar na construção de “uma sociedade não dogmática, de confiança”. “Isso não se constrói sem investimento em educação, de modo que se gere empregos, mas também cidadãos capazes de refletir”.

Para Gilles, além da educação, outra solução é a organização da sociedade civil em grupos, para lutar por pautas específicas. “Na França, há um milhão de associações, com 13 milhões de voluntários. A crise da confiança vai ser resolvida também a partir dessas articulações”, apostou, ao ressaltar que esse poder de engajamento se mostra forte mesmo dentro de uma cultura individualista.

Gerente das Relações Institucionais da Braskem Bahia e Alagoas, Milton Pradines destacou a complementariedade do encontro entre Gilles e Karnal: “Gilles traz uma reflexão profunda sobre o que acontece hoje e o Karnal traz considerações importantes como filósofo,  desmitifica algumas coisas que parecem clássicas, fazendo  um diálogo importante”.

Pradines ressaltou, ainda, que a principal característica do ciclo de debates, que termina no dia 15 de outubro, é pensar questões contemporâneas de forma ampla. “O momento pede isso”, defendeu. “O Fronteiras Braskem tenta trazer um leque de informações para tentar entender o contexto em que estamos inseridos”.

As informações são do Correio.
 
Foto: Betto Jr./CORREIO. Siga o insta @sitealoalobahia.

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