Tendência antiga entre brasileiros, os bebês reborn, bonecos hiper-realistas de recém-nascidos, voltaram a ganhar destaque nas redes sociais e provocado debates intensos sobre os limites da brincadeira entre adultos e a saúde mental, principalmente entre mulheres.
Em entrevista ao Alô Alô Bahia, o psicólogo e especialista em saúde mental Alexander Bez avaliou a prática como algo que, em muitos casos, é inofensivo e simbólico, mas que pode servir de alerta para necessidades emocionais profundas.
“Até certo ponto é possível considerar esse comportamento natural. Muitas vezes, essa prática está ligada à vontade de experienciar ou se preparar para a maternidade ou paternidade. No entanto, essa naturalidade tem um limite — e o problema começa quando há um rompimento entre o que é real e o que é imaginário. Quando essa prática ultrapassa a barreira do simbólico e passa a interferir na percepção da realidade, entramos no campo do delírio”, explica.
A discussão ganhou novo capítulo nesta segunda-feira (19), quando a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, emitiu um comunicado oficial informando que não realizará batizados ou qualquer outro tipo de ritual religioso com os bebês reborn. O aviso inusitado gerou surpresa entre os soteropolitanos, levantando a pergunta: há mesmo quem deseje batizar um boneco de silicone?
Para Alexander Bez, o sinal de alerta se acende justamente nesses casos em que o lado simbólico, a brincadeira, é ultrapassado. “Existem riscos psicológicos importantes. Quando o uso de um boneco reborn ultrapassa o limite do simbólico e se transforma em algo que a pessoa trata como real, há uma manifestação de delírio”.
“E o delírio, nesse caso, surge como uma forma de negar a realidade, criando um mundo paralelo onde a pessoa acredita ou age como se o boneco fosse realmente um filho. Com o tempo, isso pode resultar em frustração, ansiedade ou até depressão, porque o inconsciente acaba percebendo que aquilo não é real”, declara.
Para o especialista, apesar de algumas críticas serem avaliadas como machistas, é necessário que o debate não seja pautado pelo gênero, mas pelo processo de saúde mental delicado. “O que precisa ser compreendido é que o ponto central da análise não é o gênero da pessoa envolvida, mas o impacto emocional e psicológico dessa prática”, declara.