A escavação do antigo cemitério de escravizados localizado no estacionamento da Pupileira, em Salvador, terá início nesta quarta-feira (14), às 14h. A data marca os 190 anos da execução de mártires da Revolta dos Malês, maior levante de escravizados da história da Bahia, ocorrido em 1835.
Segundo a arquiteta, urbanista e pesquisadora Silvana Olivieri, os corpos de alguns dos líderes da revolta podem estar sepultados no local. A identificação da área foi feita a partir de sua pesquisa de doutorado na Universidade Federal da Bahia (UFBA), que envolveu o cruzamento de mapas históricos com imagens de satélite atuais, além da consulta a documentos do século 18 e obras de historiadores como Braz do Amaral, Consuelo Pondé de Sena e Antônio Joaquim Damázio.
O cemitério foi utilizado por cerca de 150 anos, até 1844, inicialmente administrado pela Câmara Municipal, passando depois para a Santa Casa de Misericórdia de Salvador. Durante esse período, foram enterradas no local pessoas escravizadas, indígenas, ciganos e pobres sem recursos para sepultamento digno. As valas comuns e superficiais não contavam com qualquer rito religioso ou estrutura funerária.
A descoberta foi apresentada à Santa Casa em setembro de 2024, em reunião com a presença do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Diante da ausência de resposta, Silvana e o professor e advogado Samuel Vida acionaram o Ministério Público da Bahia, que intermediou a autorização da escavação, concedida em março deste ano.
Antes do início dos trabalhos arqueológicos, haverá um ato religioso em memória dos sepultados.
“O cemitério sofreu um apagamento histórico, desaparecendo tanto da paisagem visível como da memória da cidade”, destaca Silvana. Segundo ela, além dos mártires da Revolta dos Malês, há indícios de que o local também possa abrigar restos mortais de participantes da Revolta dos Búzios (1798) e da Revolução Pernambucana (1817), reforçando a importância histórica e simbólica da área.