A pesquisa que identificou um cemitério de escravizados do século 18, que desapareceu do mapa de Salvador, dá início, na tarde desta quarta-feira (14), ao procedimento de busca arqueológica pelos restos mortais de aproximadamente 100 mil corpos de negros africanos, pobres, encarcerados e suicidas que podem ter sido sepultados como indigentes. A procura acontece no estacionamento da Pupileira, no bairro de Nazaré.
De acordo com a pesquisadora Silvana Oliveiri, que é responsável pela identificação do cemitério no terreno pertencente à Santa Casa de Misericórdia da Bahia, a expectativa é que a busca arqueológica encontre os restos mortais de 80 mil a 150 mil corpos no local.
Ela conta que não sabia da existência do cemitério, mas que passou a despertar para essa possibilidade quando viajou para Belém, no Pará, e descobriu um cemitério de indígenas e indigentes em uma região que é popular pela aparição de visagens. Quando retornou à Salvador, passou a vasculhar livros de história e de arquitetura, quando se deparou com mapas que indicavam a existência de um espaço similar na cidade.
“Nossa pesquisa, que era sobre a localização do espaço fúnebre, acabou servindo também para que as pessoas soubessem que esse local existia em Salvador. Houve um apagamento brutal desse lugar e, agora, nós vamos dar esse primeiro passo grande e irreversível rumo a reparação”, destaca.
A arqueóloga Jeanne Almeida, que vai ser uma das responsáveis pelas escavações, detalhou o passo a passo das buscas, que deve durar 10 dias. “Na tarde de hoje, vamos fazer a marcação e fazer a retirada da camada inicial de terra. A partir de agora, vamos trabalhar até conseguir localizar os indivíduos que estamos buscando. Já escolhemos locais pontuais de acordo com a maior potencialidade arqueológica e são neles que vamos fazer as intervenções”, conta.
Os pesquisadores vão atuar das 7h às 16h nos dias de semana e das 8h às 12 no sábado. Segundo Jeanne, a alta intensidade das buscas é proporcional ao desejo de revelar à sociedade o que pode ser o mais antigo cemitério de escravizados do Brasil e o maior da América Latina.
“Espero que a gente possa trazer para a sociedade essas evidências para atualizar a discussão sobre o racismo e a discriminação social. Que a gente possa trazer a sociedade para discutir esse estigma e, através disso, trazer estratégias de reparação”, finaliza Jeanne Almeida.