Após o sucesso de Na Minha Pele (2017), obra que ultrapassou a marca de 300 mil exemplares vendidos no Brasil, o ator, diretor e escritor Lázaro Ramos acaba de lançar Na Nossa Pele, sequência que amplia os diálogos iniciados em seu primeiro livro. O novo título aprofunda reflexões sobre identidade, memória e superação pessoal.
Casado há mais de 20 anos com a atriz Taís Araújo e pai de dois filhos, Lázaro falou sobre o processo de escrita em entrevista à revista GQ Brasil, para a qual também posou em um ensaio fotográfico sem roupas. Segundo o artista, o novo livro surgiu de um desejo de cura e de autoconhecimento.
“Escrever é a elaboração de traumas, de dores que eu senti, mas também é uma busca por emancipação”, afirmou na entrevista. “Trata-se de um verdadeiro processo de libertação: de falar, de ter coragem para conversar e, assim, inaugurar uma nova fase.”
Na obra, Lázaro aborda temas pessoais e sociais, entre eles, a forma como o silêncio pode aprisionar experiências difíceis. “Quando a gente silencia certos assuntos, eles ficam ali, cozinhando dentro da gente, e acabam deixando sequelas”, diz. “Ofereço esse livro para que as pessoas possam voar. De certa forma, para que eu também possa voar.”
Um dos pontos centrais da nova publicação é a redescoberta da história de sua mãe, Célia, falecida quando ele tinha 18 anos. A presença da figura materna surgiu a partir de um pedido do editor Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras. “Ele leu o livro e falou: ‘Adorei, mas eu quero saber mais sobre a mãe do Lázaro’. Só que eu não sabia!”, relatou.
A partir daí, o autor iniciou um processo de escuta e pesquisa com familiares, em busca de reconstruir a trajetória da mãe, que se alfabetizou já adulta, trabalhava como empregada doméstica e encontrou no teatro um espaço de autoestima. “Falar dela no livro tem a ver também com um burnout que sofri no início do ano passado. Ali entendi que existiam algumas coisas que eu havia colocado debaixo do tapete e para as quais eu precisava ter coragem de olhar.”
A dor da perda ainda permanece presente. “Até poucos anos atrás, eu entrava no supermercado, via um biscoito de que ela gostava e começava a chorar”, contou à revista GQ. “Por muito tempo, evitei olhar com profundidade para a história dela, porque ela passou por muitos sofrimentos.”
Lázaro afirma que o processo de escrita trouxe à tona não apenas a memória pessoal, mas também um olhar mais atento às mulheres como sua mãe, que muitas vezes passam despercebidas. “Passei por um processo também de perceber várias outras ‘Célias’ por aí, que a gente vê todos os dias e às vezes não olha, não presta atenção.”