Práticas religiosas indígenas, sexualidade e costumes que fugiam à doutrina católica foram alvos da Inquisição no Brasil entre os séculos 16 e 18. A repressão, liderada por padres enviados da Europa, teve episódios marcantes na Bahia, hoje retratados na graphic novel “As Confissões da Bahia em Quadrinhos”, de Alexey Dodsworth e Cristina Lasaitis.
O livro reúne histórias reais investigadas pelo Tribunal do Santo Ofício durante quatro visitas oficiais ao território colonial, em especial à Bahia, onde houve intensa perseguição a indígenas, homossexuais e mulheres acusadas de feitiçaria.
Um dos casos mais emblemáticos foi o do movimento religioso Santidade de Jaguaripe, liderado por indígenas tupinambás que reinterpretaram os rituais católicos. Também na Bahia, viveu Felipa de Sousa, primeira mulher condenada por homossexualidade no Brasil, e o padre Frutuoso Álvares, que se autodenunciou após manter relações com cerca de 40 homens.
As histórias retratadas foram extraídas de arquivos da própria Inquisição, como os documentos da Torre do Tombo, em Portugal. Pesquisas da historiadora Anita Novinsky apontam que mais de mil pessoas foram investigadas no Brasil e ao menos 29 foram condenadas à fogueira em Portugal.
Além de resgatar personagens esquecidos da história, a HQ joga luz sobre um período em que Igreja e Estado atuavam em simbiose, impondo o catolicismo até a povos que sequer o conheciam. Para os africanos escravizados e indígenas, isso significou perseguição direta a práticas religiosas, como o uso de amuletos e rituais ancestrais.
A obra, que mistura rigor histórico e arte, também narra a trajetória de figuras como Isabel Antônia, que usava falos artificiais forrados de veludo em relações com homens e mulheres, e Maria Arde-lhe-o-Rabo, tida como bruxa por supostamente envenenar homens violentos.
“As Confissões da Bahia em Quadrinhos” está disponível em livrarias online.
