Personagem interpretada por Fernanda Montenegro no filme ‘Vitória’ viveu na BA

Personagem interpretada por Fernanda Montenegro no filme ‘Vitória’ viveu na BA

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

com informações do g1 Bahia

Divulgação

Publicado em 23/03/2025 às 14:45 / Leia em 4 minutos

Da janela de casa, no Centro de Salvador, Joana Zeferino da Paz gostava de admirar o pôr-do-sol. Anos antes, da janela de um apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro, a vista era diferente. De lá, ela observou, gravou e denunciou crimes de narcotráfico, fato que a fez entrar no Programa de Proteção à Testemunha, trocar o nome para Vitória e deixar o estado para viver na Bahia.

Interpretada por Fernanda Montenegro no filme “Vitória”, produção original Globoplay que estreou nos cinemas de todo o Brasil nesta semana, Joana viveu durante 17 anos na capital baiana, onde morreu em agosto de 2023. As informações são do g1 Bahia.

Ela faleceu aos 97 anos e o corpo foi enterrado no Cemitério Campo Santo, no bairro da Federação, com os “dois nomes”: Joana Zeferino da Paz “Dona Vitória”. No epitáfio há uma justa homenagem para “a heroína por trás da câmera que ajudou a história de um bairro e marcou o país”.

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Lápide onde está o corpo de Joana da Paz, em cemitério na capital baiana — Foto: João Souza/ g1 BA

Teoricamente, por questões de segurança, até a data da morte ninguém deveria saber a verdadeira identidade de “Dona Vitória”. No entanto, não gostava de ser chamada desse modo e fazia questão de manter vivo o nome de batismo, segundo pessoas que conviveram com ela na Bahia.

No prédio onde residia em Salvador, alguns vizinhos a chamavam carinhosamente de “Jojô” e ouviam, com a atenção, a história da mulher que conseguiu ajudar a colocar na cadeia mais de 30 pessoas, entre traficantes e policiais. Com registros feitos através de uma câmera VHS, ela flagrou atividades ilícitas na Ladeira dos Tabajaras, favela em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro.

Um dos antigos vizinhos dela em Salvador é Paulo Bevilacqua, que conheceu Joana em 2017, quando se mudou para o mesmo prédio onde ela morava há mais de uma década. Ele percebeu que a idosa, na época com 90 anos, vivia sozinha e precisava de ajuda com alguns serviços domésticos.

A partir de um gesto de solidariedade, surgiu uma amizade que depois virou família. O laço foi tão forte que, quando Paulo se tornou pai, colocou o nome da filha de Joana.

“Comecei a ajudar comprando as coisinhas dela na rua, carregando compras e desenvolvi muito carinho pela pessoa que ela era. Na realidade, Dona Joana foi a mãe que eu não tive. E ela me chamava de meu filho, chamava de anjo”, contou.

Paulo descreve Joana como uma mulher alto-astral, lúcida e carinhosa. Apesar da infância marcada por pobreza e abusos na pequena cidade de Quebrângulo, no agreste de Alagoas, ela superou as adversidades e reconstruiu a vida na cidade do Rio de Janeiro, onde se especializou como massoterapeuta e comprou o tão sonhado apartamento em Copacabana.

A mudança forçada para a Bahia, em 2006, foi consequência da denúncia. Devido aos riscos à própria vida, já que do imóvel onde ela filmou os crimes ocorridos na Ladeira dos Tabajaras era possível identificá-la, Joana entrou para o Programa de Proteção à Testemunha do governo do Rio de Janeiro e foi obrigada a deixar a moradia, onde residiu durante 36 anos.

A esteticista Danielle Gomes, ex-companheira de Paulo e também amiga de Joana, contou que apesar de gostar de Salvador, Joana falava com tristeza sobre a saída do apartamento na Praça Vereador Rocha Leão.“Ela falava muito do Rio e falava que tinha ficado triste em ter que sair de lá daquela forma, tudo tão rápido”, contou.

Sobre o filme

“Vitória”, inspirado no livro “Dona Vitória da Paz”, do jornalista Fábio Gusmão, é ambientada no Rio de Janeiro e acompanha a história de uma mulher que ficou conhecida por registrar, aos 80 anos, ações criminosas em sua comunidade, contribuindo para a prisão de dezenas de traficantes e policiais corruptos. A produção é dirigida por Breno Silveira e Andrucha Waddington.

 

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