Recentemente, o caruru de São Cosme e Damião foi oficializado como Patrimônio Cultural Imaterial da Bahia. A celebração tão popular no mês dos santos gêmeos – setembro – é o argumento central para o filme “Ibejis”, dirigido por Kallyane Nery, com data de lançamento marcada para este sábado (7). Produzido no território da Chapada Diamantina, o curta-metragem de ficção, que leva o nome do orixá duplo protetor das crianças, será apresentado oficialmente na comunidade da Lagoa Seca, em Iraquara, local que emprestou sua história e cenário para o filme. Depois de ser entregue à comunidade com a exibição de estreia, a produção vai concorrer em mostras e festivais para, então, entrar nos catálogos de streaming.
“Ibejis” é fruto da preocupação da jovem diretora da Chapada, de 22 anos, com a preservação da cultura e tradições de seu berço. Por meio da ficção, Kallyane optou por contar a história de Dona Menina, uma senhora que carrega a tradição da feitura do caruru, um dos festejos mais tradicionais da região. De forma leve, o curta aborda o dia tão esperado de preparação da comida e festa dos Ibejis no sincretismo religioso, além de deixar no imaginário do espectador a continuidade dessa manifestação cultural por meio do desenrolar da história dos gêmeos Pedro e Joana, personagens principais no curta.
Laço com a comunidade
A produção se propõe a valorizar a própria comunidade que, além de compor a equipe técnica e artística do filme, também integra o elenco. Formado totalmente por moradores da localidade, desde a personagem principal, encenada por uma personalidade de destaque na comunidade e avó da diretora, Dona Laurita, até as crianças que aparecem no filme.
Estudantes de escolas públicas de Seabra e Iraquara acompanharam as filmagens, participaram de rodas de conversa e receberam orientações dos profissionais que trabalharam no filme. A ideia foi mostrar aos meninos e meninas que não apenas é possível realizar cinema em qualquer lugar, como a Chapada é um celeiro de boas produções. “Nada melhor do que a gente poder contar as nossas próprias histórias. Essa contrapartida com os jovens é para mostrar que eles também podem contar as próprias histórias nessa ou em qualquer localidade”, explicou Kallyane.
A diretora enfatiza que é um “filme feito das pessoas da Chapada Diamantina para as pessoas da Chapada Diamantina” e defende a produção como um espaço de protagonismo tanto de quem é retratado no filme como de quem o produz. “Não tem como ter outra perspectiva além da de quem mora aqui, que vive essa tradição, que sente tudo que a Chapada Diamantina proporciona”, completa. É o segundo filme da carreira de Kallyane. Em Cachoeira, ela produziu o curta “Loci Loci”.
Resgate e preservação
Ainda que não toque diretamente no aspecto religioso, “Ibejis” demonstra o compromisso de combater o apagamento da identidade afro-brasileira. Assim, o filme é também em uma ferramenta de combate ao preconceito contra as crenças de matriz africana.
O projeto do filme foi contemplado nos editais da Lei Paulo Gustavo Bahia, por meio da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, sendo o único roteiro de ficção selecionado pelos recursos da lei de incentivo na Chapada em 2023.