Com o objetivo de democratizar o acesso ao mundo da moda a talentos e modelos não profissionais o Afro Fashion Day, projeto pioneiro na moda negra no país e que este ano celebra uma década de história, vem realizando seletivas em bairros de Salvador. Nesta edição, duas seleções do tipo foram feitas durante o mês de setembro, sendo uma na Barroquinha, no Centro Histórico da cidade, e outra em Cajazeiras, um dos maiores conjuntos habitacionais da América Latina.
Mais de 230 pessoas participaram das seletivas do AFD 2024, sendo que 30 foram pré-selecionados para a fase final, realizada nesta terça-feira (24), no Teatro Gregório de Mattos. Entre os 10 nomes escolhidos, estão Ana Paola Simas, 14 anos, da cidade de Lauro de Freitas; Dandara Neri, 17 anos, de Paripe; Genê Góes, 33 anos, de Simões filho; Luan Sales, 22 anos, do Nordeste de Amaralina; Rafael Menezes, 25 anos, da Boca do Rio; Kaline, 13 anos, do Engenho Velho de Brotas; Laura Guimarães, 19 anos, de Fazenda Grande 4; Luane Gonçalves, 23 anos, do município de Itaparica; Maurício Rosário, 31 anos, do IAPI; e Iasmin Lima, 19 anos, do Arraial do Retiro.
Todos os selecionados irão se juntar a outros modelos profissionais para o desfile que acontecerá em 1º de novembro, a partir das 19h, na Praça do Campo Grande. O evento gratuito irá abrir o mês em que se celebra a Consciência Negra, com o tema “Música – Resgatando raízes e elevando vozes”. A programação inicia às 11h com a Feira da Sé, oficinas e atrações musicais.
A diversidade dos selecionados
A diversidade deu o tom em mais uma final da seletiva de bairros do AFD. Para participar, a pessoa negra precisava ter idade a partir de 13 anos. Não tinha critério de idade máxima ou algum padrão de beleza durante a seleção. O mais votado pelos jurados foi Luan Sales, de 22 anos. O modelo é do bairro de Nordeste de Amaralina e falou sobre a emoção de participar da passarela mais negra do país: “Eu sou uma pessoa preta, LGBTQIA+, não-binária, de periferia. Então, esse resultado me faz acreditar. Eu fico muito feliz, e com isso tudo eu só tenho a agradecer”.
Genê Góes, de 33 anos, saiu de Simões Filho para participar pela terceira vez das seletivas de bairro. No ano passado, ela chegou a avançar para a final, porém precisou interromper a busca do sonho de desfilar no AFD por conta do tratamento contra o câncer de mama. “A minha terapia acabou me fazendo um pouquinho mal e eu fiquei internada com dor no coração porque eu tinha ficado lá no hospital. Mas esse ano eu tentei de novo e agora estou aqui muito grata. E com a responsabilidade de representar a minha categoria no plus size e as mulheres que lutam por outro câncer de mama também”, disse.
Maurício Rosário, 31 anos, é do bairro do IAPI. Depois de dois anos tentando se inscrever, ele, que é uma pessoa surda, não conteve a emoção ao ser selecionado para a desfilar na passarela mais negra do país: “Estou muito emocionado. Eu sou um jovem negro, surdo e me sinto capaz de ir para qualquer lugar. Independentemente, qualquer pessoa é capaz de realizar seus objetivos. Me sinto representando a minha comunidade surda”.
O júri foi formado pela DJ, modelo e dançarina Lunna Montty, pelos maquiadores Dino Neto e Roma Aragão, pelos estilistas Fagner Bispo, Najara Black e Filipe Dias e pelo diretor de teatro Fernando Guerreiro. Também integraram a equipe o diretor artístico do projeto Gil Alves, a editora chefe do CORREIO, Linda Bezerra, e a gerente Comercial e Marketing do CORREIO, Luciana Gomes.