ACM, que completaria 97 anos hoje, era apaixonado por eleições e venceu sete vezes

ACM, que completaria 97 anos hoje, era apaixonado por eleições e venceu sete vezes

Redação Alô Alô Bahia

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Por Rodrigo Daniel Silva e Millena Marques para jornal Correio*

Arquivo Correio

Publicado em 04/09/2024 às 08:33 / Leia em 6 minutos

Ele se orgulhava de dizer “Eu nunca perdi uma eleição quando meu próprio nome esteve em jogo”. E ele tinha razão. Nas sete eleições que disputou durante a vida, Antonio Carlos Magalhães, que completaria 97 anos de idade hoje, se estivesse vivo, não perdeu nenhuma. E, ao longo de 50 anos no poder, ocupou os cargos de deputado estadual, federal, prefeito de Salvador, senador e governador. O mais marcante pleito que disputou? Os aliados políticos e amigos não têm dúvida: a briga eleitoral pelo governo da Bahia em 1990.

Esta eleição ficou gravada na memória dos baianos pelo célebre jingle “ACM, meu amor”, de Vevé Calazans e Gerônimo, e por um embate acirradíssimo. Mesmo com apoio de Antonio Carlos, Josaphat Marinho perdeu a corrida eleitoral para Waldir Pires em 1986. Para que seu grupo político retornasse ao poder quatro anos depois, ACM decidiu colocar o seu próprio nome nas urnas, que nem eram eletrônicas ainda, e enfrentar cinco adversários. E venceu no primeiro turno com 20 mil votos a mais do que o necessário.

“Foi um marco importantíssimo essa eleição. Ele ganhou no primeiro turno contra diversos candidatos, com estruturas partidárias. E todos contra ele querendo levar a eleição para o segundo turno. E a apuração naquela época durou mais de 10 dias. Houve até apuração paralela porque houve tentativa de fraudes, e ele acompanhou todos os dias”, relembra o filho e ex-senador Antonio Carlos Magalhães Júnior.

Para Fernando Vita, conselheiro aposentado do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), era nos palanques eleitorais que ACM se sentia em casa. Os discursos eram quase sempre improvisados. E pelo menos duas frases não podiam faltar: “vocês (baianos) estão no meu coração, e estou no coração de vocês”, e “essa terra (a Bahia) é a razão da minha vida”.

“Um palanque em que estivesse Antonio Carlos Magalhães podia ter o presidente que fosse, mas a estrela aqui na Bahia era ele. Antonio Carlos foi aqui na Bahia o último grande astro dos tempos de palanques. Eram discursos com timing político muito bons. Era um grande eloquente”, observa Vita.

Aliás, foi com Antonio Carlos que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ter aprendido a discursar nos comícios. Em sua autobiografia “A arte da política”, FHC relatou que, durante um evento eleitoral em 1994 em Canudos, no nordeste baiano, ele só ficou vendo o “professor” dando aulas. “Ele era um peixe n’água nos comícios. Impressionante. Ele fica à vontade com o povo, se eletriza, e como quem mergulhava, fisicamente, na multidão antes ou depois de subir no palanque”, escreveu.

Ex-governador da Bahia e amigo por 30 anos, Paulo Souto recorda que ACM era atento a cada detalhe na campanha. “Ele tinha naturalmente uma preocupação com ter pouca gente em comício, porque o adversário podia fazer foto, vídeo e explorar isso. Ele dizia também que se devia falar pouco em comício. ‘Se a gente não consegue falar o que quer falar em 7 minutos, não vai falar em tempo nenhum’, ele dizia. E falava que em comício ‘tem que ter frases de efeito e pancadas no adversários’”, conta, aos risos, o ex-aliado político.

Marqueteiro das campanhas de ACM, Fernando Barros reforça a fama de detalhista de Antonio Carlos. “Ele tinha insight na área de comunicação impressionantemente bons. E o que ele mais gostava na campanha era a propaganda. Aprovava todos os textos, orçamento de filmes. Dedicava um tempo enorme à comunicação. De cartaz a santinho, ele queria ver tudo”, relata.

Vice-presidente nacional do União Brasil, ACM Neto diz que seu avô se transformava em épocas eleitorais. “Ele tinha uma vitalidade impressionante. Recebia centenas de candidatos, conversava com todos, viajava para o interior, fazia vários comícios, anotava as reivindicações, conversava com lideranças e dava muitos conselhos principalmente para os mais jovens”, lembra.

Histórico

“A eleição, para um político como ele, era uma parte integrante da sua vida”, diz Paulo Souto sobre o amigo. E foi ainda jovenzinho que o médico por formação começou a participar dos embates eleitorais. Aos 27 anos, conquistou o seu primeiro mandato como deputado estadual pela antiga União Democrática Nacional (UDN). E tomou gosto. Quatro anos depois, tornou-se deputado federal, sendo reeleito para mais dois mandatos consecutivos, em 1962 e 1966.

Durante o regime militar, ACM foi prefeito de Salvador e governador da Bahia duas vezes por nomeação. É na década de 1990 que volta a receber o “banho de votos popular”. Primeiro, sendo eleito para o Palácio de Ondina e depois para o Senado Federal duas vezes (1994 e 2002).

ACM Júnior relembra que o pai fazia questão de ouvir muito o irmão, o ex-deputado federal Luís Eduardo Magalhães, durante as eleições. Principalmente, quando era para definir as chapas.

Já perto de iniciar o pleito de 1994, quando Antonio Carlos concorreu a senador, Luís cobrou ao pai a definição do suplente ao Senado e recebeu uma resposta com gracejo: “Só não quero alguém que torça para eu morrer”. Luís Eduardo olhou, apontou para o irmão Júnior e disse: “então, o seu suplente é aquele ali”. Riram todos.

Dias decisivos

E como era Antonio Carlos nos dias de votações? Os aliados e amigos garantem: havia preocupação, mas sem nervosismo nem ansiedade. Ele marcava sempre às 11 horas da manhã para ir votar no Clube Bahiano de Tênis, no bairro da Barra. No último pleito em que acompanhou, mas sem concorrer, em 2006, ele votou na Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (Ufba), no Canela.

“No dia da eleição, ele tinha aquele prazer imenso. Ele saia para votar acompanhado de todos que pudesse levar. Do mesmo jeito, ele acompanhava seus liderados. Ele ia votar com o candidato a governador, senador e amigos”, recorda Fernando Vita.

No final do dia, quando as urnas eram abertas, Antonio Carlos via a apuração em casa. Na época de governador, no Palácio de Ondina. Fora do governo, ele acompanhava em seu apartamento no bairro da Graça.

Mesmo já sem tanta saúde, ACM gostava de estar presente em caminhadas e carreatas durante esses últimos anos de vida. Em algumas, até se sentiu mal. “Ele fazia questão de estar presente e era uma figura importante para a gente”, afirma Paulo Souto.

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