Na Olimpíada de Paris, Rebeca Andrade se consagrou como a atleta brasileira com maior número de medalhas da história. Além do feito, ela conseguiu, em uma só edição, o lugar mais alto no pódio com a conquista do ouro no solo, assim como duas medalhas de prata e uma de bronze. Os efeitos do desempenho inédito da ginasta, por sua vez, foram além – de modo que não seria exagero dizer que inspiraram os sonhos de jovens de todo o país.
A prova disso é que, em Salvador, a procura pela ginástica artística registrou aumento de 100%. Desde o início da competição, os esportes olímpicos, em geral, registraram elevação das buscas em até 150% na cidade.
“As Olimpíadas vêm com a perspectiva de fomentar os esportes para a criançada e deixa as modalidades em evidência. Rebeca é um exemplo, a superação dela também foi possível porque outros atletas, como Daiane dos Santos, Daniele e Diego Hypólito, abriram caminhos e tiveram muita visibilidade”, afirma.
No Movement Centro de Ginástica, espaço situado no bairro do Bonfim, a quantidade de aprendizes de ginástica dobrou: antes das Olimpíadas terem início, eram 70 alunos. Agora, são 140.
“Meu celular não para de tocar. Eu durmo e acordo com pessoas me procurando para as aulas de ginástica. Normalmente, a procura é maior por parte de meninas, porque existe um certo preconceito com relação à prática da ginástica por homens. Aquelas que buscam o esporte, geralmente, já vêm da ginástica rítmica e o que atrai elas são os aparelhos, desde a trave até as barras, por conta de Rebeca Andrade. Todas elas querem ser Rebeca”, revela Rosemeire dos Santos, responsável pelo espaço.
Esportes ‘novatos’ e tradicionais ganham o interesse do público
Não só Rebeca Andrade e demais integrantes da equipe de ginástica foram responsáveis por despertar o interesse de crianças e adolescentes baianos para o esporte.
Em Salvador, valeu também o exemplo de Beatriz Sousa, medalhista de ouro no judô; Beatriz Ferreira, medalhista de bronze no boxe; Rayssa Leal, medalhista de bronze no skate street; e Tatiana Weston-Webb e Gabriel Medina, medalhistas de prata e bronze, respectivamente, no surf.
Em todas as modalidades acima citadas, nas quais o Brasil obteve medalha em Paris, houve aumento de procura por parte de novos alunos. A que registrou a maior taxa foi o skate, esporte que teve competição na Olimpíada de Tóquio, em 2021. De acordo com Rodrigo Curvelo, professor do Projeto Skatista, o normal, antes da competição, era a procura mensal de cinco potenciais novos alunos. Nas últimas semanas, ele registrou 15 pessoas, em um crescimento de 150%.
O surf, também estreante na Olimpíada de Tóquio, despertou o interesse dos baianos quando Ítalo Ferreira conquistou o ouro naquela edição. No verão daquele ano, houve aumento no quadro de alunos da Escola de Surf Armando Daltro, feito que o professor Armando projeta que deve se repetir a partir de dezembro, com crescimento da procura em até 15%.
“As Olimpíadas ocorreram durante o período de baixa temporada, devido ao período chuvoso e de ventos fortes. Com isso, não conseguimos absorver essa demanda que as Olimpíadas acabam trazendo de forma imediata. Mas, no verão, isso deve mudar”, idealiza.
No aumento da demanda por efeito dos Jogos Olímpicos, constam também os esportes consagrados pelos brasileiros. Pelo judô, esporte que o Brasil conquistou o maior número de medalhas, a procura chega a 30% em escolas, segundo Marcelo Ornellas, presidente da Federação Baiana de Judô (Febaju).
Mas essa estimativa, conforme ele garante, é só a iminente. A longo prazo, a perspectiva é de aumento proporcional ainda mais significativo. “Hoje, temos 9.900 atletas de judô cadastrados no sistema. A cada quatro anos, temos um aumento de 20% a 30% do número de alunos do judô. Daí, pode sair o nosso novo ou nova campeã olímpica”, diz.