Procura por moda fitness evangélica cresce mais de 400% em vendas online na Shopee

Procura por moda fitness evangélica cresce mais de 400% em vendas online na Shopee

Redação Alô Alô Bahia

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Priscila Natividade para CORREIO

Marina Silva/ CORREIO

Publicado em 19/05/2024 às 00:12 / Leia em 7 minutos

Nunca foi questão de sedentarismo, falta de tempo ou porque não gostava de praticar atividade física. Muito pelo contrário: o cross training é importante para a recepcionista Bruna de Brito, de 22 anos. No entanto, por ser cristã, muitas vezes ela se sentia incomodada em usar uma roupa mais justa na hora de ir treinar.

“Em inúmeros momentos, eu evitava ir por conta da roupa e, quando ia, pegava camisetas velhas do meu pai e usava. Com ordem e decência, eu busco não escandalizar e ser prudente com as roupas que visto”.

Até que Bruna viu alguém na academia usando uma saia mais longa com legging e foi atrás de lojas que vendessem igual. Ao invés do traje fit comum, uma versão mais composta, sem decotes  e com o comprimento abaixo do joelho. É cada vez mais comum ver esse look comportado – e por que não dizer, discreto – no ambiente das academias. A moda agradou as cristãs e tem nome: fitness evangélica.

Segundo dados da Shopee – um dos maiores marketplaces internacionais em operação no Brasil – atualmente, são mais de 170 vendedores cadastrados com termos que se aplicam ao tema “moda fitness evangélica”. No período de um ano, por exemplo, termos como “moda evangélica academia” cresceram mais de 400%. A “saia calça fitness evangélica” teve aumento de mais de 270% e “legging academia com saia evangélica” mais de 600%.

São mais de 300 opções de produtos relacionados a essa definição na plataforma. Entre os estados que mais concentram essas ofertas no e-commerce estão São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais na liderança, seguidos por Bahia, Ceará e Paraná.

Na contramão de um padrão, que, geralmente, é muito mais sobre exaltar cada curva do corpo (para além do conforto), o conceito é uma tendência crescente e deve continuar nesse ritmo. “A gente ainda consegue identificar os evangélicos pelas roupas que eles usam. Já presenciei na academia alguns jovens vestidos com camisas escritos ‘atletas de Cristo’ e ‘esportistas de Cristo’. O mercado evangélico não para de crescer. Existe uma capacidade de pautar os valores culturais, políticos e até um certo ‘ethos na economia’”, analisa o professor de Marketing Religioso da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Ricardo Hida.

Uma das características que mais chama atenção, ainda de acordo com Hilda, é, além do senso de pertencimento, a capacidade que esse mercado tem de se retroalimentar: “São valores bem próprios e um orgulho em demonstrá-los. As pessoas ficam imaginando que colocar lá na porta da lojinha ‘Deus é Fiel’ é só uma forma de divulgação de fé, mas, na verdade, não é. É uma identificação”.

” As pessoas ficam imaginando que colocar lá na porta da lojinha ‘Deus é Fiel’ é só uma forma de divulgação de fé, mas, na verdade, não é. É uma identificação”

Ricardo Hida

Professor de Marketing Religioso da ESPM

Antes de ser adepta da moda fitness evangélica, Bruna diz que se sentia não só desconfortável, mas também exposta. “Meu corpo ficava muito à mostra. As roupas contribuíam para isso com malhas finas e, como dizem por aí, do tipo ‘aumenta bumbum’. Encontrei conjuntos confortáveis feitos de tecidos que não marcam a parte íntima e que têm de todos os tamanhos. Valeu muito a pena, me proporcionou uma leveza na consciência”, acrescenta.
Estilo discreto

O IBGE investiga religião apenas no Censo Demográfico e os dados de 2022 com este recorte ainda não foram divulgados. No entanto, com base no levantamento de 2010, na Bahia, existiam mais de 2,4 milhões de pessoas evangélicas. No Brasil, são 42,2 milhões. A proporção de evangélicos na população do estado era de 17,41%, a 20ª maior do país – no Brasil, 22,16% da população se considerava evangélica. Já em Salvador, existiam 524.286 pessoas evangélicas.

Os números dão uma dimensão do tamanho do mercado consumidor que os cristãos são capazes de movimentar. Ainda conforme o professor de Marketing Religioso da ESPM, Ricardo Hida, o que se mostra como tendência no momento está muito vinculado ao universo gospel norte-americano. Existe, sim, uma oportunidade de negócio, tendo em vista a expansão significativa do número de evangélicos no Brasil.

“Quem aponta bastante essas tendências, a meu ver, atualmente, são as igrejas Renascer em Cristo, Bola de Neve e a Igreja Lagoinha. É visível o número de influenciadoras digitais, por exemplo, que querem mostrar que o ser ‘crente’ não é ser alguém fora de moda ou usar roupas anacrônicas, que você pode estar bonita e de forma recatada, transmitir elegância”, comenta.

Com mais de 374 mil seguidores, a doméstica Marluce Severina dos Santos, ou melhor, a ‘Irmã do Crossfit’ (@irmamarlucesantosof), não só levanta 100 kg no cross, mas atrai o interesse de confecções de moda fitness evangélica em parcerias nas redes sociais. Já são quatro marcas que ela divulga no seu perfil: Honras, Use Equilibrium, Epulari e Rose Fitness.

“É um número absurdo de mensagens que a gente recebe do povo perguntando de onde é a roupa que estou usando nos vídeos”. Apesar de não revelar quanto ganha com as publicações, Irmã Marluce tem postagens com mais de 266 mil curtidas e 31,9 mil respostas.

Antes do traje mais recatado, Irmã Marluce ia para a academia com a saia que costumava usar na igreja. “Não deixava de ir para a academia, fazia os exercícios com uma blusa bem comprida e saia jeans, não ficava exposta. Sou uma senhora idosa e não me sentia bem com aquele ‘shortinho’ e um ‘topinho’. Fui procurando na internet e descobri as roupas. Comecei a usar e outras irmãs que praticam caminhada e academia foram aderindo também”, conta.

A médica Elisyanne Gleyce Morais conheceu a moda fitness evangélica assim: pelas influenciadoras evangélicas. “Ficava com medo de fazer algum movimento e acabar mostrando demais. Eu usava legging e amarrava um agasalho na cintura para disfarçar. Eu sou adventista e a recomendação é se vestir com decência, basta ter bom senso”. Ela chega a gastar R$ 200 com peças nesse estilo: “Faço questão de malhar tanto pela saúde como estética. Muitas tinham vergonha de ir para a academia por não encontrar uma roupa adequada. Percebo até pessoas mais velhas aderindo a esse estilo”, afirma.

Mas existem diferenças entre a moda modesta e a moda evangélica, como explica a professora da área de moda do Senac São José do Rio Preto (SP), Aline Eloa Crespi. A primeira se refere a uma forma mais discreta de se vestir. Já a segunda tem efetivamente uma ligação com a doutrina religiosa. “A moda evangélica no Brasil evoluiu para um estilo mais atualizado e sofisticado. Se vestir bem tornou-se prioridade para esse público que busca roupas elegantes, comportadas, modernas, duráveis, tecidos de boa qualidade e peças que estejam em conformidade com os padrões evangélicos”.

Uma categoria que reflete não apenas uma preferência estética, mas também um estilo de vida. “Existem muitas diferenças nas regras de vestuário nas diversas igrejas, contudo, em todas há um consenso: a preferência por roupas mais comportadas. Decotes menos ousados, pouco uso de transparências, saias com fendas pequenas e vestidos longos com tecidos mais estruturados, evitando marcar a silhueta. Uma coleção de moda pensada para esse público precisa fugir do sensual”.

A auxiliar de classe Júlia Elen diz que busca “pureza, delicadeza, sensibilidade e elegância” ao escolher uma roupa, mesmo que seja para ir à academia. “Sempre me visto com pudor e modéstia. Na hora de ir para a academia, geralmente, improvisava com alguma outra peça para ficar decente. Além disso, creio que, quando visto peças de moda fitness evangélica, não vejo olhares ou ouço comentários desconfortáveis dentro e fora da academia. Não é uma garantia, mas uma prevenção”.

Leia a matéria completa no CORREIO.

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