Uma celebração da literatura, unida às vozes que debatem os novos rumos possíveis da palavra e suas causas. Na plateia, centenas de olhares atentos que aplaudem a cada resposta. E o protagonista da paisagem não poderia ser outro: um mar de livros coloridos que se propagam pelos corredores do Centro de Convenções. Nessa imensidão de letras, encontramos Maria Esther, de 9 anos, explorando as capas dos livros de bichinhos, que são seus favoritos. É sua primeira vez numa Bienal e ela já tem uma opinião formada: “Muito legal!”.
Na última sexta-feira (26), a Bienal do Livro Bahia 2024 começou oficialmente no Centro de Convenções, em Salvador. Durante o dia, mais de 10 atrações, dentre bate-papos, lançamentos de livros e contações de histórias, passaram pelos espaços Arena Jovem, Café Literário e Janelas Encantadas. Intercaladas às programações, os visitantes puderam circular no primeiro andar pelos estandes de livros que reúnem 200 editoras e marcas.
Um desses espaços é o Vixi Bahia Literária, coletivo de autores baianos que se reúnem para participar de eventos e feiras literárias e que, na Bienal, expõe a obra de 10 autoras. Dentre elas está a escritora de Santo Amaro, Paula Brito, 48, que apresenta obras infantis com histórias voltadas para o protagonismo negro. “Acho importantíssimo fazer essa movimentação dentro da literatura. Trazer mais crianças, mais pessoas, estimular a leitura a partir do lúdico, das imagens e aproximar o contato com o escritor”.
Rede de conexões na Bahia
Uma das conversas mais aguardadas da programação desta sexta-feira foi o painel “Qual Bahia?”, que recebeu os escritores Itamar Vieira Junior e Luciany Aparecida e lotou o auditório do Café Literário. Com mediação de Edma Góis, os autores de “Torto Arado” e “Mata Doce”, partilharam suas visões sobre territorialidade, identidade e pertencimento a partir de suas obras e do lugar que ocupam enquanto autores baianos destaque no cenário nacional.
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“A cena literária no Brasil é um lugar de disputa”, defendeu Luciany ao salientar a importância de fazer uma literatura com contexto, local e personalidade, possível de narrar o que se vive e acontece no nosso estado.
“Claro que tudo isso gera um incômodo a quem está ali há muito tempo, por estar se sentindo desafiado, não diretamente, mas pelo que está acontecendo no cenário literário. Mas a gente tem que encontrar resistência e não arredar o pé”, frisou Itamar Vieira Junior.
Apesar dos entraves, o escritor afirma que seu trânsito enquanto autor sempre tem lhe proporcionado um grande acolhimento pelos leitores, de maneira íntima e delicada, nos fluxos em eventos e encontros como a Bienal.
“Leitores existem, não acho que há um desinteresse. Mas se você me perguntar ‘pode melhorar?’, pode. Porque ainda faltam muitas políticas públicas para fomentar a leitura. Vivemos num país desigual, em que algumas pessoas têm acesso a livros, mas a grande maioria não, então a gente precisa melhorar. Interesse os jovens e os adultos têm em leitura, basta a gente promover, possibilitar que isso aconteça”, defendeu Itamar Vieira Junior.
Outro destaque da programação foi o primeiro painel “A Gente se Encontra em Salvador”, que inaugurou o primeiro dia da Arena Jovem. A ideia do formato é celebrar uma série de encontros que tornam Salvador um ímã, um QG que atrai conversas do Brasil. As convidadas da vez foram a baiana Nega Faya, escritora e idealizadora do Slam das Minas; Nath Finanças, empresária e influencer carioca e a escritora de Belo Horizonte, Lavínia Rocha.
Iniciando o bate-papo por suas vivências que as trouxeram e as marcaram em Salvador e discutiram temas como autocuidado, educação, protagonismo de mulheres negras como formadoras de opinião e lideranças que inspiram seus ambientes de atuação.