Filha de Ziraldo revela último pedido que fez ao pai na véspera da morte: ‘Me despedi dele mil vezes’

Filha de Ziraldo revela último pedido que fez ao pai na véspera da morte: ‘Me despedi dele mil vezes’

Redação Alô Alô Bahia

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Reprodução/TV Globo

Publicado em 08/04/2024 às 08:25 / Leia em 4 minutos

A cineasta e diretora teatral Daniela Thomas revelou que fez um último pedido para o pai, o cartunista Ziraldo (1932-2024), na véspera de sua morte. Na conversa, ela insistiu para que o pai pudesse “reencontrar” todos os amigos que já havia perdido e também a mãe dela — Vilma Gontijo, que faleceu em 2000.

“Ele tinha todo tipo de problema de saúde, então nós tínhamos esse medo dele morrer de repente, mas foi paulatinamente embora. Eu me despedi dele mil vezes, tive mil conversas e mil carinhos até o último momento. A última coisa que fiz na véspera da morte dele foi pedir para reencontrar os amigos e a minha mãe”, disse ela, em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, no último domingo (7).


Em conversa com o jornalista Carlos de Lannoy, a filha mais velha de Ziraldo comentou que o desenhista já estava muito fragilizado por causa de um AVC (Acidente Vascular Cerebral): “Eu falo com muita leveza que desejei muito que partisse e parasse de sofrer. Que fosse se encontrar com os amigos lá no espaço, pelo qual sempre foi apaixonado. Não acredito no céu, mas o espaço existe. E como a gente é poeira de estrela, ele voltou a ser poeira”.

Ela, que co-dirigiu com Walter Salles os premiados “Terra Estrangeira” (1994) e “Linha de Passe” (2007), se emocionou com as homenagens ao pai. “Foi assustador, acho que a gente não dimensionava o tamanho do afeto do Brasil por ele. Foi uma tsunami de afeto. Nós ficamos tomados”, contou.


Daniela ainda elogiou o pai por ter sido um “visionário” e relembrou que a família foi profundamente afetada pela perseguição da ditadura militar (1964-1985). Ele foi um dos fundadores de “O Pasquim”, uma das principais publicações da resistência, e disse que ele nunca se calou diante “da ditadura, discriminação e infâmia”. “Quando o prenderam, ficou um mês desaparecido. Nem o Exército, a Marinha ou o DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações) assumiram a prisão”, falou.

Ela chegou a visitá-lo no cárcere, em que ficou em uma solitária no Forte de Copacabana, no bairro homônimo, na Zona Sul do Rio: “Foi das coisas mais violentas, porque meu pai era um cara que vivia em companhia da manhã à noite. Então, ficar numa solitária… Eu fui visitar ele e fiquei muito impressionada em ver como ele tava mudado, fragilizado, angustiado e solitário”, lembrou Daniela.

“Quando eles prenderam o pessoal do ‘Pasquim’, eles ficaram quase um mês desaparecidos. Nem o Exército, nem a Marinha, nem Aeronáutica, nem o Dops, nem o Doi-Codi assumiram a prisão,”, completou.

“Eu tenho essa divisão bem clara na minha vida assim. Esse paraíso que era a minha vida na infância e essa crise que depois a gente demorou, a gente mudou. Saímos de Copacabana, deu uma desandada na vida até retomar”, falou Daniela sobre uma das três vezes em que o pai esteve preso.

Ziraldo tinha orgulho da sua trajetória na luta contra o regime militar brasileiro. Ele disse ao documentário do “Arquivo N”, da Globo News: “O artista brasileiro tem uma participação extraordinária na luta contra a ditadura e contra a falta de liberdade, contra a opressão”.

Tentaram, mas nunca conseguiram censurar Ziraldo. O cartunista ficou mundialmente conhecido. E durante a carreira, publicou 130 livros.

 

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