O ambientalista, filósofo e poeta Ailton Krenak tomou posse na Academia Brasileira de Letras (ABL) nesta sexta-feira (5). A cerimônia aconteceu na sede da instituição, no Rio de Janeiro. Ele é o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na ABL.
O pensador agora ocupa a cadeira 5, vaga após a morte do historiador José Murilo de Carvalho no ano passado. A cerimônia começou às 20h, no Petit Trianon da ABL.
Krenak foi eleito para a ABL em agosto de 2023 com 23 votos, superando a historiadora Mary Del Priore e o indígena Daniel Munduruku.
“Espero que o Brasil inteiro, os outros brasileiros, possam entender que nós estamos virando uma página da relação da ABL com os povos originários. Eu já disse que venho para cá para trazer línguas nativas do Brasil para um ambiente que faz a expansão da lusofonia”, disse Krenak, antes da posse, nesta sexta.
Durante a cerimônia, o escritor foi recebido pela acadêmica Heloísa Teixeira, que reforçou a qualidade histórica da ocasião. A espada foi entregue a ele pelo escritor Arnaldo Niskier e o colar, pela atriz Fernanda Montenegro.
O novo imortal
Krenak é Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora e ocupa a cadeira 24 da Academia Mineira de Letras. Nascido no vale do rio Doce, uma região afetada pela atividade de extração mineira, mudou-se para o Paraná aos 17 anos, onde se alfabetizou.
Ele participou da fundação da União Nacional dos Indígenas (UNI), o primeiro movimento indígena de expressão nacional. Sua eleição para a ABL aconteceu no aniversário de 35 anos da promulgação da Constituição, na qual atuou para a aprovação da emenda constitucional que trata dos direitos dos povos originários. Em 1987, ele comoveu o país com um discurso na Assembleia Nacional Constituinte, em que pintou o rosto com a tinta preta de jenipapo em protesto ao retrocesso dos direitos indígenas.
O sucesso de seus livros mais recentes, como “A vida não é útil” e “Ideias para adiar o fim do mundo”, ambos publicados pela Companhia das Letras, difundiu o pensamento ameríndio para o grande público, propondo novos modos de vida e maneiras de se relacionar com o meio ambiente. Krenak critica o que ele chama de “humanidade zumbi”, uma ideia de progresso que deslocou os homens do corpo da terra e nos levou o consumo desenfreado e à destruição da natureza.