‘Em algumas décadas, idioma falado no Brasil se chamará brasileiro’, afirma linguista

‘Em algumas décadas, idioma falado no Brasil se chamará brasileiro’, afirma linguista

Redação Alô Alô Bahia

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Publicado em 22/08/2024 às 12:00 / Leia em 3 minutos

A língua de Portugal não nasceu exatamente em Portugal. E o Brasil, a principal ex-colônia portuguesa, fala um idioma que cada vez mais se modifica e será chamado em um futuro breve de “brasileiro”, e não mais de “língua portuguesa”.

O defensor dessa visão é o linguista português Fernando Venâncio. Ele teve publicado recentemente no Brasil o livro Assim Nasceu uma Língua (editora Tinta da China). As informações são do g1.

Venâncio argumenta — apoiado em diversos estudos acadêmicos e registros históricos — que o idioma português nasceu em um território do qual somente uma parte é atualmente Portugal: o Reino da Galiza, fundado no século 5 d.C., após a dissolução do Império Romano.

“A simples ideia de que, algum dia, um idioma estrangeiro possa ter sido a língua de Portugal é-nos insuportável”, escreve o linguista.

Mesmo com a influência do linguajar brasileiro sobre a população portuguesa, o linguista considera que está em curso um processo de separação entre as duas variantes, e não de união.

“Não há maneira de retroceder, não há maneira de travar esse processo de afastamento entre o português e o brasileiro”, diz Venâncio, que já pensa intuitivamente na variante como um idioma à parte.

“O brasileiro é uma língua magnífica. Desculpe: é uma norma [variante] magnífica”, corrige-se. “Bem, é possível que você ainda viva quando se formar uma língua brasileira, o que, digamos, não será o meu caso.”

Mas, nos dois lados do Oceano Atlântico, linguistas e gramáticos argumentam que ainda há unidade em normas e usos linguísticos das duas variantes, que morfemas (artigos, preposições, pronomes, entre outros) permanecem os mesmos e que o português culto do Brasil é quase igual ao português culto de Portugal.
Esses elementos impediriam a afirmação de que há uma “língua brasileira”.

Venâncio não entra nestas questões técnicas. Diz, no entanto, que a linguagem brasileira que chama de “espontânea”, mais distante da norma culta tradicional, está aos poucos separando a nossa variante do português europeu.

“Isso é uma maneira de medir [o processo de separação]. E é uma maneira também de colocar a questão. O falante culto brasileiro também fala de uma maneira mais espontânea, de uma maneira mais ‘diária’, e esse processo vai ser cada vez mais acelerado”, afirma.

“E sabemos que nos processos de mudanças da língua há sempre esses momentos de aceleração. Vai dar-se um afastamento do português europeu. Não sabemos quando é que será. Só sabemos dizer que isso é inevitável.”

O linguista tenta resolver a questão ao concluir Assim Nasceu uma Língua afirmando: “O português promete, pois, dividir-se — ou multiplicar-se — em outros idiomas, tal como um dia aconteceu à língua dos romanos, que, por eles, não tinham destas andanças da história a mínima ideia. Sabermos isso faz-nos, a nós, mais felizes? É o mais certo”.

 

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