‘Homem do século XXIII no século XXI’: Familiares e amigos se despedem de André Luiz Peixinho

‘Homem do século XXIII no século XXI’: Familiares e amigos se despedem de André Luiz Peixinho

Redação Alô Alô Bahia

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Raquel Brito, do jornal Correio

Divulgação

Publicado em 31/03/2024 às 16:57 / Leia em 4 minutos

Um homem de amorosidade ímpar: é assim que aqueles que conviviam com André Luiz Peixinho descrevem o líder espírita, médico e psicólogo, que faleceu no último sábado (30). Na tarde deste domingo (31), familiares e amigos se despediram do intelectual.

Peixinho foi velado em uma capela repleta de coroas de flores no Cemitério Jardim da Saudade, em Brotas, em uma cerimônia ao seu gosto: com música, poesia e depoimentos de amigos. A recíproca de todo o amor com o qual trabalhou em vida se fez nítida durante o ritual, nas lágrimas de saudade dos seus pares e nas lembranças compartilhadas por eles com um sorriso no rosto.

“Eu sempre o admirei, desde que tinha 11 anos de idade, quando éramos colegas na escola. Ele já demonstrava generosidade nessa época, chamava os colegas para estudar, ajudava o grupo. Veio para Salvador, cursou medicina, fez doutorado, mestrado, mas nunca deixou de fazer os trabalhos espíritas”, conta Edinólia Peixinho, esposa de André Luiz.

Peixinho foi presidente da Federação Espírita do Estado da Bahia (FEEB) e representante regional no Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira (FEB).

Ele nasceu em Serrinha, a 184 km de Salvador. Junto com Edinólia, dedicou grande parte da sua vida a ensinar grupos de jovens sobre a doutrina espírita, com aulas, produção de espetáculos e viagens — por vezes, levavam três ônibus para apresentar as peças teatrais. Para o casal, que não teve filhos, a atuação com os adolescentes era uma forma de cuidado parental.

Segundo a esposa, esse é o legado mais forte que ele deixa. “Ele trabalhou com a juventude de uma forma inédita, eu via a dedicação que ele tinha. André, acima de médico e psicólogo, foi professor. Em todas as áreas. Quando o pessoal pedia uma biografia dele, ele falava: ‘põe professor espírita’”, diz.

Peixinho se formou médico em 1975 pela Faculdade de Medicina da Bahia (FMB), da Universidade Federal da Bahia. Também na Ufba, se graduou em Psicologia e Filosofia, além de ter sido professor da instituição. Mestre em Medicina Interna e doutor em Educação, Peixinho também foi professor titular da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP) e coordenou o internato e residência do Hospital Santo Antônio das Obras Sociais Irmã Dulce.

“Ele foi nosso professor e vai continuar sendo. Era um mestre, na medicina e em todas as coisas da vida. Centenas de alunos passaram por ele e foram transformados, puderam aprender a atender melhor, a ser médicos melhores, com o amor de Peixinho”, diz Maria Luisa Soliani, reitora da EBMSP.

Para o professor Ricardo Carvalho, que conheceu Peixinho em 1981 e dividiu projetos com ele, o líder espírita foi um mentor durante toda a vida. “O que mais me chama a atenção nele é esse caráter multi-intelectual. Ao mesmo tempo que era um médico brilhante e um educador fenomenal, Peixinho era um artista impressionante, que escrevia espetáculos. Tem uma frase dele, muito bonita, que diz: ‘é preciso que a gente vá tecendo a vida com o fio do amor’. Isso foi a marca dele. Ele era um homem do século XXIII no século XXI”, declara o professor.

André Luiz Peixinho faleceu devido a um infarto durante uma live na qual planejava as atividades da Federação Espírita para este ano, na tarde de sábado. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu. Segundo a família, ele não apresentava problemas de saúde antes disso.

Fundador da Cidade da Luz, José Medrado conta que, apesar de representar um modelo mais tradicional do movimento espírita, Peixinho nunca entrou em conflito com novas ideias. “Não se tem notícias de Peixinho tentar impedir novas concepções da vivência doutrinária espírita. Este, ao meu ver, é o maior legado dele, que ele não gerou confronto com ideias novas”.

Adenáuer Novaes, escritor e também líder espírita, concorda. “Vai ser difícil você encontrar alguém como André Luiz Peixinho, que não tinha inimigos, não conseguia ter. Ele não pactuava com qualquer tipo de contenda, estava sempre tentando conciliar”, afirma. “Ele trouxe ideias que hoje nós vemos o quanto estavam à frente do seu tempo, mostrando que o espiritual predomina sobre o material. Que a vida é muito mais do que estar num corpo físico”.

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