Nesta sexta-feira (29), Salvador completa 475 anos de fundação. Para celebrar o aniversário, o Alô Alô Bahia foi saber mais sobre alguns dos cartões-postais mais famosos e icônicos da capital baiana.
Em entrevista, o historiador, escritor e especialista em iconografia baiana Daniel Rebouças contou sobre a história dos lugares e monumentos que viraram símbolo e identidade de Salvador.
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Elevador Lacerda
Foto: Reprodução/Bruno Quadros/@bhruno_quadros
Daniel explica que o conceito de “Cartão-Postal” remonta aos cartões físicos, com imagens da cidade que, muitas vezes, eram enviados com carinho ou guardados como lembrança. E, considerando esse aspecto, o historiador conta que o Elevador Lacerda foi o principal cartão-postal de Salvador entre as décadas de 40 e 70.
“O Elevador foi um marco importante neste período, tanto a imagem quanto o lugar em si. E a história é interessante, porque as obras começaram no século 19, em 1869, mais ou menos, e foram finalizadas em 8 de dezembro de 1873, sendo parte de um projeto da empresa do Antônio de Lacerda de conectar a Cidade Alta com a Cidade Baixa. Só que ele vai se tornar símbolo da cidade antes mesmo dessa ideia de cartão postal existir. Desde as narrativas, depois as primeiras imagens, fotografias e pinturas, algumas aquarelas e logo nos primeiros cartões postais da cidade, ele já aparece”.
Foto: Divulgação/Secom
O historiador comenta que o destaque que o Elevador já possuía só aumentou com a sua modernização, em 1930, que trouxe a torre no formato que permanece até hoje.
Foto: Acervo Digital/Iphan
“Quando acontece a reforma, ele passa realmente a ser bastante valorizado na iconografia por ser associado um símbolo de modernidade da cidade. É uma estrutura de concreto armado bastante poderosa e simbólica de uma determinada visão que queria demarcar Salvador como uma cidade moderna, mas que também preservava suas peculiaridades. Então, o Elevador representa a ‘Cidade de Dois Andares’, que era a referência mais comum de cidade, porque quase todo mundo chegava via barco e, avistava logo o elevador”, diz Daniel.
Mercado Modelo
Foto: Lucas Moura/Secom PMS
Outro símbolo bem marcante de Salvador, o atual Mercado Modelo já abrigou outras funções em períodos diferentes da história. “Ele foi construído para ser o novo prédio da Alfândega, com obras que começaram em 1847 e terminaram em 1863”, conta Daniel. Segundo ele, o prédio foi entregue em 1861 – o que explica a placa que adorna a entrada do Mercado – mas as obras só foram efetivamente concluídas em 1863.
O historiador diz que o prédio continua funcionando como Alfândega até 1940, quando surge uma proposta para derrubá-lo e erguer um prédio para a Secretaria da Fazenda Federal no lugar. Em 1969, um incêndio atinge o antigo Mercado Modelo de Salvador – que funcionava onde foi erguida a célebre escultura de Mário Cravo Junior no Comércio – surge a ideia da transferência para o Mercado Modelo que hoje conhecemos.
Foto: Arquivo Municipal/Fundação Gregório de Matos
“Quando era Alfândega, o prédio não tinha essa simbologia para a cidade. Mas, a partir de 1971, ele passa a ser um cartão postal bastante importante, principalmente porque ele talvez seja um dos símbolos mais fortes da indústria do Turismo da Ditadura Militar e dos primeiros governos pós ditadura, que via cidade como um polo de uma certa baianidade, dessa Bahia que seria uma espécie de Museu Vivo, guardando os ideais de africanidade ou afro-brasilidade”, explica Daniel.
Farol da Barra
Foto: Shutterstock | windwalk
Talvez, o Farol seja um dos primeiros lugares que vêm à mente quando se pensa em Salvador. Daniel conta que o Forte da Barra é uma das construções mais antigas da cidade, com a primeira estrutura de alvenaria datando de 1598, fins do século 16.
Óleo sobre tela ‘Farol da Barra’, de José Pancetti Crédito: Reprodução fotográfica Vicente de Mello
Daniel também lembra que a localização do Forte não era eficiente em termos de defesa militar, mas teve uma importância estratégica. “Ele era um ponto importante de vigia da cidade. Ou seja, ele tinha uma capacidade de avisar a presença de marcações estrangeiras ou de notificar embarcações não identificadas com muita eficiência”, observa.
Foto: Reprodução/Bruno Quadros/@bhruno_quadros
“Acho que o Farol da Barra é um cartão muito importante da Cidade, que marca a relevância que Salvador teve em relação a toda a história do Brasil ligada à ocupação da orla marítima. E talvez tenha sido uns pontos mais representados na iconografia soteropolitana. É bastante recorrente nas imagens, gravuras, fotografias e depois no cartão postal. O Farol da Barra é muito simbólico na representação da cidade”.
Forte de São Marcelo
Foto: Acervo Digital/Iphan
Conhecida por sua relação com o mar e por ter uma das Baías mais famosas do mundo, Salvador tem, como um de seus grandes símbolos uma fortificação no meio das águas: o Forte de São Marcelo.
Foto: Reprodução/Kin Santana/@kinsantana
“Pensando em Salvador como cidade portuária, que durante mais de dois séculos foi um dos portos mais importantes toda América e do Brasil, obviamente enquanto foi capital até 1763, é impossível não falar do Forte de São Marcelo. A sua particularidade arquitetônica, embora, não seja única, é bastante singular, é o fato de ser um ponto circular no meio do Oceano”, destaca Daniel.
Foto: Acervo Digital/Iphan
A data de construção do Forte, segundo Daniel, não é um consenso entre os historiadores. “Ali na região do Porto, existiram duas fortificações do mar: uma mais antiga, que ficava mais próximo Salvador, e que não durou após época dos holandeses e depois a fortificação do São Marcelo. As duas tinham caráter de defesa, só que a do Forte de São Marcelo é de meados do século 16. As primeiras informações sobre plantas e projetos datam de 1650. E sabemos que demorou bastante para ser construído, mas no final do século XVI ou seja 1690 quase 1700, já estava pronto, com certeza”.
Por fim, Daniel justifica como o Forte ganhou a importância simbólica de um dos principais cartões-postais de Salvador: “Toda essa arquitetura no meio do mar, em formato circular, sempre marcou bastante a história de Salvador, reforçando essa relação de Salvador com as águas e como uma grande cidade portuária”.
Foto: Reprodução/Kin Santana/@kinsantana