Carolina Alves de Brito, soteropolitana nascida e criada na praia de Itapuã, não vai curtir os 475 anos de Salvador em casa, onde nasceu há 41 anos, na próxima sexta-feira (29). Mas, sem dúvida, no mesmo dia, fará a festa de conterrâneos e outros brasileiros em Portugal, levando um pouco de dendê para a Semana Santa de quem não mora mais no Brasil. A Carol do Acarajé, como é conhecida, é uma entre as 200 mil mulheres brasileiras que são a maior força de trabalho entre as estrangeiras em terras lusitanas.
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Ainda moça, com apenas 20 anos, a baiana recebeu um convite de uma família de portugueses para trabalhar com eles na cidade do Porto, no norte de Portugal. Eles haviam provado os quitutes que Carol preparava ali mesmo na praia e se encantaram. Queriam porque queriam que aqueles sabores cruzassem o Atlântico, assim como Carol queria porque queria, mesmo com a resistência da mãe, assumir os riscos de uma mudança tão drástica. Se nada desse certo, pensava, o caminho de volta pra casa era sempre um alento.
Ainda em Porto, ela começou a imprimir sua marca no restaurante onde trabalhava, o que foi refletindo no crescimento da clientela, que chegava no boca a boca. Cinco anos depois, outra oportunidade surge: um convite da Embaixada do Brasil em Lisboa para que Carol montasse uma banca de comidas baianas durante a programação do Sete de Setembro do Consulado do Brasil no Porto. O sucesso foi tanto que a soteropolitana voltou três dias depois para um repeteco do evento.
De lá pra cá, Carol não deixou mais a capital portuguesa, onde, atualmente, tem dois restaurantes, um na Rua da Rosa e outro na Rua de Santa Marta. Ela chegou a Lisboa após um “pulo no escuro”, deixando de lado um pouco da segurança que havia conquistado no Porto. Na nova cidade, trabalhou por 10 anos em um restaurante, mas, nas horas vagas, participava de feiras e promovia jantares temáticos, até pedir demissão e instalar a própria barraca na Casa do Brasil, associação de imigrantes sem fins lucrativos, todas as quintas-feiras.
Aquele local, pouco a pouco, foi ganhando uma nova energia, transformado numa pequena Bahia, onde a noite do acarajé virou um point entre pessoas vindas de várias partes de Portugal, não só da capital. O sucesso abriu os olhos de Carol para a necessidade de ter o próprio espaço, que surgiu em 2017, como a primeira unidade do Carol do Acarajé, no Bairro Alto, uma região boêmia da capital portuguesa, tal qual nosso Rio Vermelho. Lá, a Bahia se faz presente em porções de moquecas, de vatapá, de caruru, farofa de dendê e feijão-fradinho.
“Hoje, tenho 15 colaboradores, todos registrados”, faz questão de ressaltar, em entrevista ao jornal Correio Braziliense, a soteropolitana, que inaugurou a segunda unidade de seu restaurante em julho do ano passado. Satisfeita? Sim! Acomodada? Nem um pouco. Carol, a mais nova de 14 irmãos, já tem planos de voltar ao Porto, onde seu sonho em Portugal começou, para novos projetos. Sobre esses, só o tempo dirá, mas os orixás, que sempre estiveram no caminho da baiana, trilhado no fazer do acarajé, seguirão guiando seus passos.
Patrimônio
Uma lei municipal sancionada em junho de 2002 instituiu o acarajé como Patrimônio Cultural de Salvador. A lei foi sancionada dois anos antes do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), após diversos estudos, entender que o bolinho de feijão frito no dendê é “o alimento emblemático do universo dos saberes e modos de fazer das baianas do tabuleiro”. Com isso, em 2004, o instituto tornou o ofício das baianas de acarajé em Salvador – o que inclui o preparo da iguaria – como Patrimônio Cultural Brasileiro.