Motoristas de aplicativo em Salvador têm rendimento médio de R$ 3.111 por mês, trabalhando cerca de 54 horas semanais. A capital baiana ocupa o quinto lugar no ranking nacional, atrás apenas de São Paulo. Os dados são de um levantamento da GigU, empresa que criou uma ferramenta para ajudar condutores a avaliar o custo-benefício de cada corrida.
A pesquisa analisou informações de 93 mil motoristas, coletadas entre novembro de 2023 e maio deste ano. Segundo Paolo Kostenbader, responsável pela área de dados da GigU, o sistema indica quais corridas têm maior chance de lucro. “O aplicativo analisa as ofertas em tempo real e orienta o motorista a escolher as melhores opções”, afirmou em entrevista ao jornal Extra.
Entre os custos mais altos dos motoristas estão o combustível e o aluguel de veículos. Em Salvador, por exemplo, condutores gastam em média R$ 4.173,99 por mês com combustível, manutenção e IPVA.
A ferramenta da GigU permite que o motorista defina valores mínimos por quilômetro e por tempo. “Com base nos critérios do condutor, o sistema usa um sinal de cores: verde para corridas vantajosas, amarelo para as que mal cobrem os custos e vermelho para as que geram prejuízo”, explicou Kostenbader.
O motorista Maycon Kanaan contou que passou a ganhar mais desde que adotou o app. “Antes fazia R$ 450 rodando 300 km. Agora consigo até R$ 800 com a mesma quilometragem”, disse.
A Uber questiona na Justiça o uso do recurso. A empresa afirma que funções como cálculo automático de ganhos e recusa automática de corridas acessam indevidamente sua plataforma. A empresa conseguiu liminar para suspender os recursos, mas a decisão foi derrubada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. “A Justiça entendeu que não se pode barrar tecnologia sem perícia”, disse a advogada Bruna Kusumoto.
Além da GigU, outros apps como o Rebu têm atraído motoristas. O Rebu oferece um sistema similar, cruzando informações de valor, tempo e distância para ajudar na escolha das corridas. “Hoje consigo definir o mínimo que quero ganhar por quilômetro e só aceito o que vale a pena”, contou o motorista Rogério da Silva ao jornal Extra.
Especialistas alertam para possíveis impactos dessas ferramentas. Fabricio Curvello, da Firjan Senai, destaca que o uso pode aumentar a recusa de corridas e ativar com mais frequência a tarifa dinâmica. “Há também o risco de exposição de dados sensíveis se os aplicativos não adotarem boas práticas de segurança”, disse à publicação.
Para passageiros, o efeito é sentido na demora para conseguir uma corrida, como relata Welington Silva, morador do Rio das Pedras. “Às vezes espero até 10 minutos e motoristas ainda cancelam”, contou.
A Uber afirmou que busca proteger sua plataforma e não permite ferramentas de automação que afetem o equilíbrio do serviço. Já advogados ressaltam que, em caso de prejuízo ao consumidor, as plataformas podem ser responsabilizadas. “Se o serviço falhar por conta dessas práticas, cabe reparação”, disse Amanda Cunha.