Quem passava pela tranquila Rua Flórida, no bairro da Graça, em Salvador, aos domingos, podia se deparar com uma cena inusitada: cadeiras de praia, pessoas em pé, algumas sentadas na calçada, todas com algo em comum: taças na mão. Sim, a “Janela Virtuosa”, como era chamado o projeto, reunia amantes dos vinhos de baixa intervenção em um cenário pouco usual no Brasil, quiçá na capital baiana, com um espírito informal e irreverente que poucos associam ao universo da bebida.

O projeto cresceu e, infelizmente, deixou sua terra natal, mas se tornou, desde novembro do ano passado, um bar de vinhos, o Virtuoso, instalado em Copanema, bem na divisa entre Copacabana e Ipanema. Mais do que um bar, o espaço se afirma como uma celebração à cultura do vinho natural e até chegar no Rio de Janeiro, fez até uma viagem transatlântica.

Decoração charmosa traz detalhes provocativos

Tudo começou quando o baiano Bernardo Goes conheceu os vinhos naturais enquanto morava na Europa, um pouco antes da pandemia, mais precisamente em Lisboa, onde bares especializados nesses rótulos especiais começaram a surgir. Ao voltar ao Brasil, onde conheceu a publicitária Mel Romariz, decidiu estudar, se aprofundar e empreender na área. Como em Salvador não existiam muitas opções para os curiosos pelo vinho natural, ele viu uma oportunidade.

Como desenrolar do projeto inicial, o casal chegou a promover, em junho de 2023, uma feira de vinhos naturais e virtuosos, a Feira LIVRE, no Santo Antônio Além do Carmo e, apesar do sucesso dos projetos por aqui, eles ainda sentiam que o caminho os levaria para fora da capital baiana. “No primeiro momento, quando decidimos mudar pro Rio, pensamos em não fechar o projeto em Salvador. Buscamos um sócio que tivesse alinhamento de pensamento, que também amasse vinhos naturais, e não achamos”, conta.

Menu aposta em opções para compartilhar

“Apesar de todo carinho por Salvador, e toda história linda e crescente da Virtuoso aí, nós queríamos novas experiências, uma nova cidade, nova vida. Do ponto de vista profissional, o Rio era uma opção de grande cidade no Brasil, com uma gastronomia num momento maduro, turismo internacional muito representativo e um cenário do vinho natural mais oportuno, em claro crescimento e constante ao longo do ano”, destaca a empresária, contextualizando o cenário que os levou a deixar a Bahia.

“Agora, a Virtuoso é um projeto mais estruturado, aberto regularmente, um novo conceito de marca, um cardápio próprio, desenhado cuidadosamente com pequenos produtores locais e assinado por um chef, um time fixo e maior. A Virtuoso cresceu. Somos um adulto jovem agora“, brinca Mel, explicando o que mudou do projeto inicial, na Graça, ao atual.

A carta traz cerca de 50 rótulos de vinhos de baixa intervenção

No endereço carioca, a informalidade segue guiando a experiência, o que não quer dizer que não se leva a sério o que é feito ali. “Nosso time é jovem e super experiente ao mesmo tempo. Passaram pelos melhores restaurantes da cidade”, reforça a empresária, que contou com a consultoria do chef Esteban Mateu para criar o cardápio e treinar a equipe, hoje liderada por Fernando Júnior.

A comida servida segue um conceito parecido com o dos vinhos. “Tudo sintonizado com os valores do vinho natural e sua experiência. Servimos comidinhas gostosas, para compartilhar, socializar, priorizando ingredientes locais, pequenos produtores, orgânicos, frescos e suculentos”, destaca Mel.

Bernardo e Mel são as mentes provocativas por trás do Virtuoso | Foto: Bossa

A carta de vinhos, a estrela da casa, traz cerca de 50 rótulos, de um universo de 14 produtores, selecionados por Bernardo, que está no mercado desde 2021 como curador e distribuidor de vinhos naturais. Sommelier WSET, o baiano cidadão do mundo ousou até no sistema de som, idealizado pelo francês Craig Ouar, DJ e expert em acústica que está movimentando a cena em são Paulo, Rio e Paris.

A cada semana, um DJ convidado comanda a programação, que assim como a proposta do que é servido ali, é livre das amarras do convencional e segue a premissa do que foi criado em Salvador: um espaço com espírito informal e irreverente e que nutre a paixão por vinhos naturais e por todo movimento que ele traz. Vá lá!