Era o início da noite de 25 de agosto de 1980, pouco antes das 19h, quando a rotina da família Muller foi quebrada de forma violenta dentro da Joalheria J. Muller, localizada na Rua Recife, esquina com a Rua Florianópolis, no Jardim Brasil, na Barra. Como faziam diariamente, José Muller, sua esposa Maria Muller, conhecida como Dona Marinha, o filho Alberto, o neto Dan, de apenas três anos, uma funcionária e o vigilante José Augusto, que trabalhava à paisana, retiravam as joias das vitrines para guardá-las no cofre antes do fechamento da loja.
O movimento na rua ainda era intenso, típico para a região, e nada indicava que, em poucos minutos, o local se transformaria em cenário de tiroteio, mortes e comoção que atrairia centenas de curiosos e mobilizaria a polícia por mais de 12 horas.
Nesse momento, três homens armados invadiram o estabelecimento. Um deles, posteriormente identificado como Fidelis Ferreira Campos, de 34 anos, rendeu todos os presentes e passou a comandar a ação com tranquilidade aparente. Ele perguntou onde ficava a arma da loja.
O que ele não percebeu foi que José Augusto, parado entre os clientes e funcionários, era o vigilante responsável pela segurança. Sem farda, ele passava despercebido. Enquanto Fidelis se dirigia ao cofre, na retaguarda estava Lourival Vieira Barros, de 27 anos, também mineiro, e o terceiro integrante da quadrilha voltou a sair, ficando do lado de fora, próximo à porta, pronto para dar cobertura usando um carro Chevette.
Quando Fidelis virou as costas e se aproximou do cofre, José Augusto reagiu. Armado com um revólver Taurus calibre 38, disparou à queima-roupa, matando o assaltante instantaneamente. O tiro rompeu o silêncio da joalheria e deu início a uma sequência de pânico, gritos e correria dentro do pequeno espaço.
Tiroteio, reféns e mortes
Do lado de fora, ao ouvir o disparo, o terceiro assaltante reagiu atirando contra José Muller, que foi atingido no braço e na coxa. Ao mesmo tempo, Lourival tentou fugir usando Dona Marinha como escudo humano, segurando a mulher enquanto descia a pequena escada de acesso à loja.
Já na calçada, Lourival soltou a refém, mas acabou atingido por disparos feitos por Alberto Muller, que utilizou a arma de Fidelis, morto segundos antes dentro da loja. Lourival caiu sem vida em frente à joalheria, enquanto o terceiro assaltante conseguiu fugir a pé em meio à confusão.
Em poucos minutos, a Rua Recife se transformou em um cenário de violência. Vidros estilhaçados, marcas de sangue espalhadas pelo chão e dois corpos – um dentro da loja e outro na calçada – chamaram a atenção de moradores e transeuntes. Dezenas de pessoas aglomeraram no local, apesar das tentativas da Polícia Militar de conter os curiosos. Muitos levantavam o lençol que cobria o corpo de Lourival na tentativa de reconhecê-lo.
Baleado, José Muller foi socorrido e levado ao COT do Canela, onde passou por cirurgia, sendo depois transferido para o Hospital Português. Em recuperação, resumiu o que viveu naquela noite com uma frase que se tornaria símbolo do episódio: “Vi a morte na minha cara e agora nasci de novo.”
Leia a matéria completa no CORREIO, parceiro do Alô Alô Bahia.